Entre as economias mais importantes do mundo, a do Brasil é a que apresenta a menor relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB), o que tem dado a muitos analistas, bancos e autoridades do governo a certeza de que o segmento continuará crescendo nos próximos anos. No entanto, um dado ainda pouco explorado por aqui indica que o cenário pode não ser tão róseo.
O comprometimento da renda do brasileiro com o pagamento de dívidas já supera até mesmo o nível dos Estados Unidos. Os americanos se recuperam vagarosamente do estouro de uma enorme bolha de crédito, concentrada no setor imobiliário.
Segundo o mais recente Relatório de Inflação do Banco Central (BC), as dívidas “comem” 23,8% da renda dos brasileiros. Nos Estados Unidos, o índice é de 17,02%, de acordo com o Federal Reserve (Fed, o banco central do país). Quando vão aprovar um crédito, os bancos consideram como teto para comprometimento da renda um nível entre 30% e 35%.
Como ainda se empresta pouco no Brasil – 46,2% do PIB, ante 190% nos EUA, 108% na China, 200% na Espanha e 98% no Chile -, a explicação para o comprometimento da renda já elevado passa primeiro, pelos juros altíssimos cobrados no País; depois, pelos curtos prazos de financiamento e, por último, pela renda ainda baixa se comparada ao padrão das nações desenvolvidas.
Um exemplo prático deixa clara a diferença entre o comprometimento da renda e o nível geral de crédito na economia. Considere-se um brasileiro que tenha comprado um carro de R$ 40.000 em 6 anos, com taxa de juros de 12% ao ano. A prestação mensal vai ser de R$ 774. A renda média do trabalhador, aqui, é de R$ 1.500/mês. Ou seja, no exemplo, o comprometimento da renda chega a 52%.
Nos EUA, um carro pode ser financiado em até 8 anos, segundo levantamento da LCA Consultores. Se custar US$ 60.000 e a operação tiver juro de 4% ao ano (taxa que consta no último relatório de crédito do Fed), a prestação mensal será de US$ 730.
Para alguém que tenha renda média para o padrão local de US$ 4.000/mês (líquidos de impostos), o comprometimento com a dívida será de 18% do orçamento. Em compensação, o endividamento total será superior ao do brasileiro.