Dívida do governo sobe R$ 28 bilhões

As novas emissões de títulos pelo governo federal e a alta dos juros fizeram a dívida pública interna em títulos crescer 3,3% em março, para R$ 873,6 bilhões. Ou seja, em um só mês houve um aumento de R$ 28,22 bilhões. No primeiro trimestre do ano, a dívida ficou R$ 63,35 bilhões maior.

Segundo dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central, a emissão de títulos ficou R$ 14,51 bilhões acima do total resgatado. Desse total, R$ 12,7 bilhões são papéis prefixados – cuja remuneração é definida no momento da emissão e, portanto, varia menos com o humor do mercado.

Também contribuiu para o aumento da dívida a alta da taxa de juros básica, a Selic, que desde setembro sofreu sete aumentos consecutivos, e hoje está em 19,5% ao ano.

O aumento dos juros tem impacto negativo para a administração da dívida porque aumenta a despesa. Por outro lado, é bom para investidores que compram títulos do governo federal (bancos e fundos de investimento, principalmente) já que eles irão receber uma remuneração maior pela operação.

Como a Selic serve para remunerar mais da metade dos empréstimos feitos por investidores ao governo por meio da compra de títulos, quanto maior a Selic, mais cresce a dívida.

A parcela formada por títulos pós-fixados – remunerados pela Selic e que oscilam fortemente com as mudanças de humores no mercado – passou de 56,6% do total dos débitos para 56,98%. Essa participação só não é maior que a registrada em dezembro de 1999 (57,02%).

Para o governo, quanto mais sobe o volume desses títulos no total da dívida, mais imprevisível fica seu pagamento no futuro.

Já a participação da parcela da dívida vinculada às variações do dólar caiu para menos de 5%, passando de 6,02% em fevereiro para 4,94% no mês passado, o que significa uma redução da exposição cambial de R$ 7,8 bilhões.

Colaborou para essa redução as duas colocações de ?swap? reverso no mercado, no valor de R$ 9,3 bilhões.

Neste tipo de operação, o Banco Central oferece aos investidores (em geral, grandes bancos) contratos com remuneração atrelada aos juros (Selic) em troca da variação do câmbio em um determinado período.

O contrato é chamado de ?reverso? porque o normal é oferecer a variação do dólar em troca da oscilação dos juros. Com o excesso de moeda americana no mercado e juros elevados, os bancos optam por aplicações remuneradas pela taxa Selic.

A redução ocorreu mesmo com a depreciação do real frente ao dólar, de 2,74%.

Hoje a parcela da dívida pública corrigida pelo dólar é muito pequena, a menor da história. Em setembro de 2002, quando o mercado ainda tinha dúvidas sobre a sucessão presidencial, essa parcela chegou a corresponder a 40,67% do total da dívida.

Momento não é bom para nova captação

A atual situação dos mercados, com os investidores avessos ao risco, não favorece uma nova captação externa por parte do Brasil, avalia Ricardo Moura, assessor para a dívida externa do Tesouro Nacional. ?A situação atual do mercado não é boa?, disse. O Brasil tem como meta captar neste ano US$ 6 bilhões. Para chegar a esse valor, falta apenas US$ 1,5 bilhão. ?Eu acho que a gente aproveitou as janelas com muita precisão.?

Os recursos conseguidos por essas captações são usados para honrar os compromissos da dívida externa que somam US$ 6,117 bilhões neste ano, além de US$ 4,974 bilhões em juros.

Para Moura, as condições de mercado no primeiro trimestre do ano – que tradicionalmente são mais favoráveis para emissões – foram afetadas pelo temor de que os EUA optassem pela aceleração do ritmo de aumento da taxa de juros, hoje em 2,75% ao ano.

Essas condições também foram afetadas, segundo ele, pelas taxas cobradas nas operações com títulos de empresas nos EUA, o chamado mercado ?corporate?. Ele explica que houve uma forte elevação do spread cobrado nessas operações em relação aos títulos do Tesouro norte-americano.

Segundo ele, isso causa um ?reajuste de preço relativo?. Ou seja, a elevação do valor cobrado para a colocação desses títulos – o quanto os investidores irão ganhar para ficar com esses papéis – afeta os preços de outros mercados, como o de países emergentes.

Ele cita como exemplo duas captações feitas na semana passada por países emergentes – Indonésia e Uruguai. A da Indonésia, no valor de US$ 1 bilhão, não teve condições favoráveis, avalia Moura. Já a do Uruguai, de US$ 300 milhões, foi cancelada.

No entanto, ele diz que o Tesouro está permanentemente analisando as condições de mercado e que pode haver uma mudança de condições no curto prazo. ?O mercado muda muito rápido.?

Moura comentou ainda a passagem do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, por países da Ásia.

Segundo ele, as visitas foram importantes para divulgar o nome do Brasil em mercados que não são habituais, como Hong Kong e Cingapura.

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