Depois de se firmar como a maior empreiteira do País, dominar o setor petroquímico com a Braskem e espalhar sua marca por áreas tão diferentes quanto a produção de etanol e a construção de submarinos, a Odebrecht começa a encarar a conta dessa trajetória fulminante nos últimos anos: a dívida do grupo disparou e atingiu R$ 62 bilhões, com bancos e investidores que compraram suas debêntures. Essa dívida está espalhada por várias empresas – e praticamente dobrou desde 2010. O débito cresceu 36% apenas em 2012, segundo o balanço consolidado do ano. As demonstrações foram publicadas no dia 25 de abril no Diário Oficial da Bahia e em um jornal daquele Estado, onde fica o conselho de administração da Odebrecht.

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Uma das consequências imediatas do aumento no endividamento foi um prejuízo consolidado de R$ 1,58 bilhão em 2012. No conjunto, as empresas da Odebrecht até tiveram lucro operacional de R$ 4,6 bilhões. Mas esse desempenho foi todo comido pelo crescimento das despesas financeiras decorrentes da dívida e virou prejuízo. O grupo pagou R$ 3,3 bilhões em juros e seu balanço ainda sofreu impacto negativo de R$ 3,5 bilhões, consequência da valorização do dólar em sua dívida. “Sem a variação cambial, teríamos dado lucro”, afirma Felipe Jens, vice-presidente de Finanças do grupo.

Embora a receita tenha crescido 22%, totalizando R$ 76 bilhões no ano passado, a dívida equivale hoje a pouco mais de 3,5 vezes o patrimônio líquido de R$ 17 bilhões da Odebrecht. Este ano, vencem compromissos de R$ 9,2 bilhões – 15% da dívida total. O restante são compromissos de longo prazo. Segundo Jens, o endividamento vem aumentando principalmente para bancar investimentos nos novos negócios do grupo. “É dívida para fazer investimento, com prazo de maturação compatível com a capacidade de geração de receita, custo adequado e na moeda correta”, afirma o executivo. “A dívida está crescendo porque a companhia investe, não é para cobrir buraco de empresa.”

Investimentos

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Pelo balanço, o grupo investiu R$ 12 bilhões no ano passado. Boa parte dos negócios ainda está em fase pré-operacional ou devem começar a gerar receitas a partir de agora, como a Odebrecht Oil & Gas, ou novas divisões de concessões de serviços da Odebrecht Ambiental. “Quando começarem a gerar receita, a situação se reverte. Nosso desafio é ‘performar’ para pagar as dívidas. E isso esta empresa sabe fazer”, afirma o vice de Finanças.

De acordo com o executivo, a situação hoje é muito diferente do que ocorreu entre o fim dos anos 90 e o começo dos 2000. Naquela fase, o grupo investiu pesado em novas áreas, como papel e celulose e concessões de rodovias. Acabou se endividando além do suportável e precisou se desfazer de vários ativos, como as participações na indústria de celulose Veracel e na concessionária CCR.

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A Construtora Norberto Odebrecht, que deu origem ao grupo, partiu da Bahia para o Sudeste nos anos 80. E deixou para trás construtoras tradicionais no ramo de obras públicas como Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Mendes Júnior. O plano já traçado para os próximos três anos prevê investimentos de R$ 47,5 bilhões, no Brasil e no exterior. “Com dívida”, diz o vice de Finanças. “Faz parte do espírito empreendedor das Organizações Odebrecht.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.