A notícia de que as Organizações Globo estão em dificuldades – o que fez a Globopar, sua controladora a declarar moratória, ou suspensão dos pagamentos -, tiveram impacto no mercado, mas não constituiu nenhuma surpresa. Os sinais de que as coisas não estavam um mar de rosas para a empresa que controla a maior rede de TV do País, foi o pedido de socorro financeiro feito ao BNDES para salvar a Net, empresa de TV a cabo do grupo.
Além de enfrentar problemas de estrutura, como altos custos das produções da emissora e altos salário de seu casting de artistas, a Globopar, holding que controla a Rede Globo, teve problemas com a disparada do dólar.
Da dívida de US$ 2,63 bilhões que a Globopar tinha em 31 de março, conforme o último balanço publicado, US$ 2,21 bilhões eram em moeda estrangeira, ou 84% da dívida. Neste ano, vencem US$ 562 milhões. No próximo dia 12 a empresa tem de quitar US$ 53,8 milhões em eurobônus.
Nessas condições, a Globopar vive um dilema comum a todas as empresas brasileiras endividadas em moeda estrangeira. Quitar débitos no momento em que o dólar está no pico das cotações, após subir 63% no ano, ou tentar esticar os prazos e voltar a fazer pagamentos dentro de alguns meses, quando o câmbio pode se acalmar após a posse do novo governo.
A escalada do dólar pegou a empresa desprotegida. Segundo analistas, a maior parte da receita da Globopar é em reais e haveria hedge (proteção cambial) apenas de uma pequena parte das dívidas de curto prazo. Como se não bastasse, a empresa passa por dificuldades de caixa, segundo analistas.
Para tentar driblar a maré de má sorte, a Globopar, contratou a agência Goldman Sachs para reavaliar o processo e atrair novos investidores no mercado externo.
Uma prova que não é de hoje que o mercado está de olho nas oscilações da Globopar é que em julho deste ano, a Standard & Poor’s rebaixou de ”B+” para ”B” os ratings de crédito corporativos da Globopar e da TV Globo. Segundo a agência de avaliação de riscos informou na época, ”o ambiente macroeconômico brasileiro hostil traz incertezas significativas sobre a possibilidade de as receitas com anunciantes se manterem nos níveis atuais, bem como a de o grupo levar adiante suas estratégias de negócios e financeira”. Traduzindo: a auditoria acionou o alerta amarelo, sinal de que a situação financeira da empresa inspirava cuidados.
O que se espera agora é que a classificação da Globopar seja rebaixada após o anúncio da moratória, ou suspensão dos pagamentos por 90 dias. O problema é que isso vai criar ainda mais dificuldades para empresa renegociar suas dívidas tanto no Brasil, como no exterior.