Depois de um ano espetacular para a bolsa, que valorizou 97,31%, e de os fundos DI atingirem rendimento médio de 23% – em função da alta taxa de juros no Brasil – é hora de perguntar: onde investir em 2004? Analistas consultados por O Estado continuam apostando nas ações, embora ressaltem que os papéis não devem render tanto como no ano passado – chegando, no máximo, a crescer 25%. Por outro lado, com a tendência de queda da Selic, os fundos DI e de renda fixa devem render menos que em 2002. A receita para manter a rentabilidade neste ano, segundo os operadores de mercado, é diversificar as aplicações, ainda que os riscos aumentem um pouco.
?Para quem quer pouco risco, os fundos DI ainda são a melhor alternativa?, diz o analista de investimentos Marcelo Martenetz, da SM Consultoria Econômica. A remuneração dos fundos DI é proporcional à taxa de juros diária. Com a trajetória de queda da Selic, os fundos de renda fixa rendem um pouco mais que os fundos DI, já que as taxas dessa modalidade são pré-fixadas, permanecendo inalteradas por, pelo menos, um mês. ?O mercado projeta juros abaixo de 15% para os próximos doze meses, o que representa uma perda real de 8% no rendimento dos fundos?, observa Fernando Fricks, analista de investimentos da Spirit Corretora de Valores.
Ele destaca que o investidor acostumado com a alta rentabilidade e baixo risco dos fundos não conseguirá manter esse ganho só nos fundos de renda fixa. ?Ele deve partir para a diversificação da carteira?, aponta Fricks. Uma das alternativas são os fundos multimercado, com parcela de renda fixa e parte aplicada no mercado futuro de juros, câmbio e bolsas. ?Cada gestor tem uma especialidade para dar o rendimento -com um pouco mais de risco, mas não tão grande como investir direto em ações?, assinala. No ano passado, os fundos multimercado proporcionaram ganhos médios de 28%. Para 2004, as projeções de mercado indicam rendimento de 18%.
Aposta nas ações
Embora continue indicando as aplicações de renda fixa para investidores de perfil conservador, o gerente de mesa de operações da Fair Corretora de Câmbio e Valores, Emerson Almeida, recomenda a readequação do mix. ?Com o novo entendimento sobre previdência privada, os PGBLs e VGBLs podem entrar na composição de uma carteira de investimentos?, cita. Mas na avaliação dele, a bolsa continua sendo a grande vedete dos ativos em 2004. ?Desde meados do ano passado, está havendo saída do dinheiro da poupança para o mercado de ações.
Acredito que essa migração continue.? Ele salienta que, com o dólar fraco perante o mercado mundial, os produtos brasileiros seguem competitivos no exterior. Por isso, as perspectivas em relação ao desempenho das empresas nacionais na bolsa seguem otimistas.
Pelo menos no primeiro trimestre, quando o mercado prevê que a Bovespa alcance 24.500 pontos, o que significaria uma elevação de 11,8% sobre os 21.907 pontos do fechamento do ano passado. ?O grande teste para o governo está no primeiro trimestre. Se conseguir desenvolvimento social e empregabilidade, as empresas e ações vão receber esse reflexo positivo?, afirma Almeida. Porém se as promessas de campanha ficarem só para 2005, ?o mercado pode ter um efeito de realização um pouco maior, voltando à casa de 20 mil pontos?.
Para Fricks, apesar da forte alta da bolsa em 2003, existem setores com espaço para crescer neste ano. ?Pelas perspectivas de lucros das empresas, há possibilidade de distribuição de melhores dividendos?, comenta. Entre as empresas que devem propiciar ganhos acima da média, os analistas citam as de papel e celulose, alimentos, bebidas, siderurgia e mineração. ?Conforme evoluírem as regras do setor elétrico, podem surgir oportunidades para as empresas do setor mais para frente?, observa o analista da Spirit. ?Se o cenário tranqüilo continuar nos próximos meses, com a estabilização da economia, a volatilidade da Bolsa tende a diminuir. O que o investidor aplicando em ações tem que olhar é se o retorno será maior que os juros nos próximos doze meses.?
Apesar do cenário favorável que se desenha para as ações, Martenetz alerta que o otimismo pode ser momentâneo. ?Até março, a bolsa pode continuar em alta, mas tem que pôr pouco dinheiro, porque a bolsa não repetirá a mesma performance do ano passado e existe muita gente se arriscando, entrando na maré de compra?, adverte. Por isso, o analista da Spirit fala que é preciso ficar atento para deixar de investir na bolsa entre março e abril.
Comprar dólar neste momento só vale a pena para quem tem dívida na moeda americana. ?É um ótimo momento de compra porque está barato, mas o câmbio não vai explodir?, aponta Martenetz. De acordo com os analistas, somente um fato externo grave, como terrorismo ou elevação dos juros na Europa ou EUA, poderia fazer a moeda disparar no primeiro semestre.