Divergências chegam aos empresários

Após uma onda de divergências públicas entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, agora chegou a vez de empresários brasileiros e argentinos trocarem críticas. Segundo o jornal argentino Clarín, durante o 5.º Fórum da Indústria da Argentina, realizado anteontem em Mar del Plata (Argentina), os presidentes da UIA (União Industrial Argentina), Héctor Méndez, e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, deixaram claras suas divergências sobre a política industrial dos dois países.

?De que se queixam os argentinos se o tipo de câmbio hoje lhes favorece e torna sua indústria mais competitiva?, afirmou Skaf, que há vários meses não esconde suas críticas ao real valorizado. No Brasil, o dólar tem girado em torno de R$ 2,40 nos últimos dias, enquanto na Argentina compra cerca de 2,90 pesos. Em tese, o câmbio mais desvalorizado do país vizinho aumenta a competitividade da indústria local.

Skaf também afirmou que ?a Argentina vai crescer neste ano o dobro do Brasil?. Segundo ele, o país vizinho terá expansão econômica de 6%, contra 3,5% do Brasil. Além disso, ele ainda disse que ?os argentinos também podem comprar empresas? no Brasil. A afirmação rebate críticas de empresários argentinos após a compra da petrolífera Pecom pela Petrobras, da cervejaria Quilmes pela AmBev e da fabricante de cimento Loma Negra pela Camargo Corrêa, entre outros negócios.

O presidente da UIA contestou as afirmações. ?Se hoje temos um tipo de câmbio melhor é porque há dois anos temos política industrial?, rebateu. ?Nós empresários fomos responsáveis pelo fechamento de muitas fábricas porque não lutamos por uma política industrial. Agora que temos uma o Brasil não pode querer um pedaço?, disparou.

Diversos setores industriais argentinos têm defendido o estabelecimento de restrições para importações do Brasil. Entre eles, estão empresários do setor de eletroeletrônicos, têxteis e calçados. Por outro lado, produtores brasileiros também têm apresentado queixas, como empresários de vinho, por exemplo.

A disputa entre empresários contaminou o campo político. O presidente argentino, Néstor Kirchner, acusou nesta semana empresários paulistas de quererem o monopólio da indústria da América do Sul.

Livre comércio de carros agora só em 2008

A Argentina adiará até 2008 a aplicação de um acordo de liberalização do comércio de automóveis com o Brasil, medida que tem o objetivo de abrir um período de transição para equilibrar o intercâmbio comercial no setor. A decisão, que será anunciada oficialmente nos próximos dias, foi confirmada pelo secretário da Indústria da Argentina, Miguel Peirano, durante um fórum empresarial da União Industrial Argentina, que terminou ontem na cidade de Mar del Plata.

?Não haverá livre comércio para os automóveis até 2008. Na próxima semana assinamos esse acordo?, antecipou o secretário.

Antes de liberar o comércio de veículos com o Brasil, a Argentina pretende negociar um plano que reduza as diferenças entre os setores automobilísticos de ambos os países, já que as grandes companhias multinacionais diminuíram seus investimentos no Brasil.

Para atrair as montadoras, o governo argentino pensa em dar incentivos às empresas, como redução das retenções às exportações se as mesmas superarem o montante das vendas ao exterior que realizaram em 2004.

O acordo de livre comércio deveria entrar em vigor em 2006, mas em setembro do ano passado a Argentina já havia adiantado sua intenção de adiá-lo, devido à grande penetração que as montadoras estabelecidas no Brasil têm no mercado argentino, onde abocanham 60% das vendas.

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