Distribuidoras querem reduzir mistura de álcool na gasolina

Uma queda-de-braço envolvendo distribuidoras de combustíveis e usineiros da região Centro-Sul pode parar na mesa da última reunião do Conselho Interministerial do Açúcar e Álcool (Cima) deste governo. Pressão que vem sendo feita pelas distribuidoras pretende obter a redução na mistura de álcool anidro na gasolina, hoje na casa dos 25%, alegando a alta do preço do combustível nos últimos meses. O Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom) alega que a gasolina teve alta de 3% na última semana  com o impacto do aumento no preço do álcool anidro pago aos produtores.

?Dependendo do índice de redução desta mistura, é possível baixar em R$ 0,01 ou R$ 0,02 o preço final da gasolina na refinaria, o que acaba compensando maiores gastos dos consumidores, em tempos em que já estão sentindo no bolso o impacto da alta autorizada pela Petrobras?, alega o diretor do Sindicom, Alízio Vaz. Segundo ele, a redução na mistura deve ser vista com ?normalidade?. É uma oscilação que deve ocorrer de acordo com a variação na oferta e demanda. Quando há mais álcool no mercado, aumenta-se a mistura; caso contrário, tem de haver a diminuição?, afirmou.

Foi por conta de um crescimento previsto para a safra de cana-de-açúcar deste ano, alegado pelos usineiros, que o porcentual da mistura foi elevado de 24% para 25% em julho. Naquela época, o preço do litro de álcool anidro chegou a R$ 0 42. Nos meses seguintes, entretanto, a desvalorização cambial atraiu o setor sucroalcooleiro para as exportações de açúcar e o preço do álcool anidro subiu em torno de 40%, atingindo na sexta-feira R$ 0,75 por litro, o valor mais alto da série de dois anos medida pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq-USP.

O impasse, entretanto, ocorre porque o setor sucroalcooleiro alega que tem condições de abastecer o mercado com o álcool produzido na safra deste ano, que está terminando no Estado de São Paulo. No total, a região Centro-Sul produziu este ano 11 bilhões de litros, ou 1 bilhão a mais do que no ano passado. Mas também viu crescer o aumento no consumo, devido a um maior volume na venda de carros a álcool (crescimento de 300%) e nas exportações do produto (de 400 milhões de litros em 2001 para 700 milhões de litros este ano).

?O setor deve chegar ao final de abril com cerca de 130 milhões de litros em estoque, mais 300 milhões de litros que devem ser produzidos no início da próxima safra no mês de abril?, alega Plínio Nastari, consultor do Datagro, instituto especializado no setor sucroalcooleiro.

Segundo ele, não há falta de oferta no mercado. ?Essa pressão para redução de álcool na mistura não se justifica?, diz. Ele lembra que cada ponto porcentual de anidro na gasolina representa o consumo de 270 milhões de litros num período de 12 meses.

O diretor-financeiro da União da Agroindústria Canavieira (Unica), Antônio Pádua, disse que há um ?desvio? no reajuste do preço da gasolina por conta das oscilações do preço do álcool. ?Quando o álcool teve seu preço reduzido de R$ 0,62 no início da safra para R$ 0,42, não houve repasse desta queda para o consumidor na bomba de gasolina. Quando os preços recuperam esta perda, o repasse é imediato. Há alguém ganhando neste espaço de tempo e este alguém não é o produtor?, afirmou.

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