No centro do debate eleitoral sobre a política econômica, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) saiu nesta segunda-feira, 28, em defesa de sua atuação nos governos do PT, sobretudo após a crise internacional deflagrada em 2008. O diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, que já foi vice-presidente da instituição, criticou o uso de “chavões” no debate eleitoral, como “bolsa-empresário” e apoio a “campeões nacionais”, e defendeu os aportes do Tesouro Nacional para financiar os empréstimos do banco.
“Utilizar termos como esse é meio uma desqualificação ao empresário. Ele dá a noção de que esse País não tem empresários qualificados, que fazem cálculos econômicos racionais”, disse Ferraz a jornalistas, após participar da abertura de um seminário sobre instituições financeiras de desenvolvimento, organizado pelo instituto de pesquisas Minds, no Rio.
A expansão do banco estatal de fomento, uma das estratégias de reação à crise, é um dos pontos mais criticados pela oposição na política econômica dos governos Lula e Dilma Rousseff. Desde 2009, o Tesouro aportou R$ 339,246 bilhões no BNDES, incluindo os R$ 30 bilhões autorizados em maio. Ano passado, houve também um aporte de R$ 15 bilhões pra capitalizar o patrimônio do banco, elevando o montante para R$ 354,246 bilhões.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo” no domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comparou os investimentos públicos nas bolsas de transferência de renda com os subsídios dados por meio do BNDES. “O governo dá para cima e dá para baixo. É mais fácil você parar com o subsídio (para setores empresariais, via BNDES) do que com a bolsa”, afirmou Fernando Henrique, quando perguntado se é possível fazer um ajuste na política econômica sem afetar a distribuição de renda.
Para o diretor do BNDES, porém, não é o banco o ponto central do debate eleitoral. “A sociedade vai discutir não o BNDES, mas o investimento e o financiamento do investimento, porque este País tem o enorme desafio de crescer a importância relativa do investimento”, disse Ferraz, para então alfinetar: “Tem que ser um debate qualificado. Utilizar chavões para tentar resumir um processo extremamente complexo pode ser uma simplificação”.
Segundo Ferraz, chamar os empréstimos do BNDES de “bolsa-empresário” é “pejorativo ao empresário brasileiro” porque as taxas de juros na economia brasileira, “o preço macroeconômico principal”, são muito elevadas. Por isso, recorrer ao BNDES é uma questão de fazer “cálculos econômicos racionais”. Do contrário, as empresas seriam obrigadas a exigir taxas de retorno que resultariam em preços que “o consumidor não suportaria”.
Sobre os aportes do Tesouro, o diretor do BNDES destacou que, no contexto da crise internacional, estratégia semelhante foi usada por bancos de fomento de outros países – Ferraz citou o China Developmente Bank, o KfW alemão e os bancos do Canadá e do México. O mecanismo de captar recursos no mercado, para então emprestar aos bancos públicos, seria, segundo Ferraz, “mais seguro do ponto de vista das contas públicas” do que se o BNDES recebesse aportes por meio do Orçamento da União.