O diretor de relações com os investidores da Parmalat do Brasil, Paulo Carvalho Engler Pinto Júnior, renunciou ao cargo em meio à crise da matriz na Itália, que entrou em concordata depois da descoberta de um rombo multibilionário em sua contabilidade. O conselho de administração da Parmalat aceitou o pedido de renúncia do diretor e elegeu o executivo Andrea Ventura para assumir a função.
O comunicado foi encaminhado ontem à Bovespa. A nota não explica o motivo da saída. A reunião do conselho que tomou essas decisões foi realizada no último dia 19 de dezembro.
A multinacional italiana Parmalat vive uma crise desde o início de dezembro, quando suas ações foram suspensas na Bolsa de Milão. A empresa admitiu que não conseguira liquidar um investimento de 500 milhões de euros em um fundo nas Ilhas Cayman.
Também revelou que tinha um rombo de 3,9 bilhões de euros na sua contabilidade. Acabou entrando em concordata.
O fundador e ex-presidente da empresa, Calisto Tanzi, foi preso no dia 27 de dezembro e indiciado criminalmente sob acusação de fraude ao sistema financeiro.
No Brasil, a empresa atrasou o pagamento de co-operativas de produtores de leite em vários estados. O governo brasileiro marcou uma reunião para a próxima semana para discutir os efeitos da crise no setor.
Prisões
O diretor da Parmalat na Venezuela, Giovanni Bonici, é alvo de uma ordem de detenção emitida pela Procuradoria de Milão (Norte da Itália), ainda não executada até o momento, por sua suposta ligação na quebra da empresa, informou a agência de notícias italiana, Ansa.
Bonici é acusado, junto com outras sete pessoas detidas na quarta-feira, de formação de quadrilha e quebra fraudulenta dentro da investigação pela qual Calisto Tanzi, fundador do grupo, permanece preso desde sábado passado. Tanzi foi acusado de ter desviado 800 milhões de euros.
Fausto Tonna, que foi durante anos o braço-direito de Calisto Tanzi, admitiu ter falsificado os balanços da Parmalat, mas disse ter agido seguindo as ordens do fundador do grupo. Já Luciano Del Soldato substituiu Tonna como diretor financeiro da companhia.
Governo teme calote em produtores
A crise mundial da gigante Parmalat está deixando o governo de cabelo em pé devido à posição dominante da indústria italiana no mercado brasileiro de laticínios. Pela estimativa de especialistas, a Parmalat detém hoje cerca de 70% do mercado do País. Mês passado, a empresa pediu concordata na Itália depois de anunciar um rombo bilionário em suas contas. Agora a crise está se espalhando em muitos dos 30 países onde o grupo atua, inclusive no Brasil.
– Tememos que o calote que a Parmalat pode estar dando em pequenos produtores no Estado do Rio seja apenas a ponta do iceberg – disse uma fonte da área econômica, referindo-se ao fato de a empresa ter adiado, nas últimas semanas, o pagamento de uma dívida com produtores de Itaperuna.
No Ministério da Agricultura, os técnicos vêm trabalhando a toque de caixa, obedecendo a uma determinação do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. O governo desconfia que a dívida da Parmalat com as cooperativas possa superar a parcela de R$ 2,3 milhões referente ao fornecimento de leite no período de 1.º a 15 de dezembro. Isso porque há outras regiões do País que têm a Parmalat como único receptor do produto.
Socorro
O BNDES também vê com preocupação a crise na Parmalat – cujo rombo em sua matriz passa de US$ 7 bilhões. Segundo uma fonte do banco, uma conclusão preliminar é de que o risco do empréstimo de R$ 25 milhões feito à empresa italiana no fim do ano passado é do agente financeiro, ou seja, do banco que intermediou a operação, e não do BNDES. Mas, mesmo assim, o tema tem sido examinado com cuidado.
A questão, diz uma fonte ligada ao Palácio do Planalto, é que somente agora o caso ganhará destaque entre os grandes temas do governo. Tanto que, na próxima terça-feira, o ministro da Agricultura se reunirá com representantes de toda a cadeia produtiva de leite e derivados – inclusive da Parmalat – para discutir a crise no mercado brasileiro.
A partir daí, espera-se a elaboração de um diagnóstico, com impacto sobre empregos, renda e o verdadeiro prejuízo que, principalmente, os pequenos produtores que dependem da Parmalat deverão ter com os reflexos negativos no Brasil da concordata e das prisões dos dirigentes da indústria italiana.
Até o momento, tudo ainda é nebuloso para o governo e para parte dos segmentos da cadeia. A situação da empresa no País também é desconhecida, embora nos bastidores o que se diz é que, se a Parmalat fosse colocada à venda, haveria, pelo menos, três pretendentes à compra, entre as quais a Nestlé.
No início da semana, o fundador e ex-presidente da empresa, Calisto Tanzi, foi preso em Milão. Ele já admitiu ter desviado pelo menos US$ 500 milhões da empresa.