Com crise ou sem, um problema não deixa de assombrar consumidores e comerciantes: são as notas falsas, cuja quantidade apreendida vem oscilando relativamente pouco, tanto no Brasil como no Paraná, nos últimos anos. Dados do Banco Central (BC) mostram que, no ano passado, mais de 550 mil cédulas falsificadas foram retidas em todo o País, ante 662 mil em 2007 e 610 mil em 2006. No Estado, o número vem crescendo: em 2006, foram 32,7 mil. No ano seguinte, 25,75 mil e, em 2008, 35,9 mil. Este ano, cerca de 9,3 mil notas falsas foram apreendidas no Paraná, e 76,7 mil, no Brasil, até a última sexta-feira.
Outro número que vem oscilando, no Paraná, é o de inquéritos da Polícia Federal (PF) a respeito do assunto. Se, em 2007, a quantidade (33 procedimentos) foi baixa em relação aos dois anos anteriores – foram 130 em 2005 e 77 no ano seguinte -, em 2008 o número voltou a aumentar: o órgão registrou 133 inquéritos no período. Este ano, tudo indica que a quantidade será alta, novamente, já que até esta semana já foram instaurados 37 procedimentos.
Segundo o agente Marcos Koren, da comunicação social da PF, tem sido comum a instauração de inquéritos por portaria pelo órgão. Isso significa que procedimentos vêm sendo iniciados nem só a partir de denúncias e prisões, mas também apenas mediante o encaminhamento, por outros órgãos oficiais, de notas falsas. A partir daí, os agentes podem chegar aos falsários.
De acordo com o analista do Meio Circulante do BC, Alexandre Matta, as notas mais falsificadas continuam sendo as de R$ 50, que respondem por mais de 60% do total apreendido, em média. São notas com valor ainda alto – que compensa a falsificação – e que são passadas com certa facilidade no comércio. No início do Plano Real, segundo ele, a cédula falsa mais comum era a de R$ 10.
Porém, uma mudança pode estar por vir nos próximos anos. Matta aponta um aumento significativo de cédulas falsas de R$ 100. “Se continuar no ritmo atual, elas vão passar em quantidade as notas de R$ 50”, afirma. O motivo do aumento, segundo ele, é o mesmo que levou as notas de R$ 50 passarem a ser mais falsificadas que as de R$ 10: é o próprio aumento da circulação de cédulas – no caso, as verdadeiras – nesse valor.
Assim, quanto mais comum se torna um modelo de cédula, menos os cidadãos desconfiam. Ainda, se a cédula se tornou comum há pouco tempo, muitos não conhecem bem suas características e não conseguem, assim, perceber indícios de falsificação. “Os falsários jogam com a falta de informação das pessoas”, explica Matta, lembrando que muitos desses indícios podem ser facilmente percebidos.
Marcas
O principal elemento a ser observado por quem recebe uma cédula, de acordo com o analista do BC, continua sendo a famosa marca d’água. “Mais de 60% das notas falsas não têm a marca”, conta. Itens como a imagem latente e o registro coincidente (ver quadro) também podem ser verificados com certa facilidade, mesmo sem o auxílio de instrumentos. “Uma lente de aumento também ajuda, pois mostra detalhes que não podem ser vistos a olho nu, como microletras e o acabamento da impressão”, completa Matta.
Por esse motivo, além das constantes campanhas, o BC promove, frequentemente, cursos e palestras destinados principalmente ao setor do comércio – o mais vulnerável às fraudes. Nem só associações e entidades de classe pedem orientação aos analistas do BC. Conforme Matta, supermercados e farmácias são os que mais têm chamado diretamente os profissionais do banco para dar esclarecimentos sobre notas falsas a seus funcionários.
Ao receber cédula falsa, entregue às autoridades
Quem receber – ou desconfiar que recebeu – uma cédula falsa deve procurar as autoridades. O ideal, de acordo com o agente Marcos Koren, da Polícia Federal,é ir diretamente ao órgão para registrar um boletim de ocorrência. Assim, o cidadão pode contribuir com informações que auxiliem nas in,vestigações.
O Banco Central também pode ser procurado para esclarecimentos. Em qualquerum dos casos, a cédula será retida e, em nenhuma hipótese,o valor será devolvido pelos órgãos competentes.Por isso, para não ficar no prejuízo, o cuidado é o melhor remédio.
Tecnologia favorece a fraude
Nos últimos anos, o instrumento que mais vem sendo usado por criminosos para imprimir cédulas falsas é, segundo o analista do Banco Central (BC), Alexandre Matta, a impressora de jato de tinta. O papel pode ser o comum ou mesmo o oficial – no caso, os falsários usam produtos químicos em notas de menor valor, para diluir a impressão original.
Há, também, as impressões em offset, com tecnologia de gráfica. Nesse caso, Matta diz que a detecção da fraude é mais fácil. “O acabamento normalmente não é bom, as cores não ficam legais. É no jato de tinta que as cores ficam mais perto das originais”, informa. Mas o método industrial vem sendo menos usado ultimamente. Segundo o agente da Polícia Federal (PF), Marcos Koren, nos últimos cinco anos o órgão não fez nenhuma apreensão de equipamentos complexos.
Além do “olhômetro” e da lente de aumento, outros instrumentos podem ajudar as pessoas a detectarem falsificações por conta própria. A luz ultravioleta, segundo Matta, é um deles. Novos produtos, tanto para pequenos comerciantes, como para grandes bancos, também não faltam. Este mês, por exemplo, uma empresa lançou um equipamento de bolso que detecta nem só cédulas falsificadas, mas cheques, cartões de crédito e outros documentos. Outra companhia trouxe dispositivo capaz de identificar cédulas falsas depositadas em caixas de autoatendimento da rede bancária.
Há, também, a comum e relativamente barata caneta detectora: basta “riscar” a nota que uma reação química pode indicar que a cédula é falsa. “A caneta e a maioria dos outros instrumentos ajudam a verificar se o papel é verdadeiro ou não. Mas nas falsificações feitas com papel-moeda lavado, muitos equipamentos não pegam”, alerta Matta. Ele diz, ainda, que já ouviu relatos de que existe uma resina que, se passada no papel, consegue “enganar” os dispositivos.