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Dinâmica da inflação é mais favorável com sinais de menor persistência, diz BC

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana, avaliou nesta quinta-feira, 30, que a inflação mostra uma dinâmica mais favorável, com sinais de menor persistência. Em apresentação sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), ele destacou os sinais de desinflação mais difundida e o choque favorável de alimentos. “Constatamos um recuo das expectativas para 2017 e a ancoragem de previsões em horizontes mais distantes”, afirmou.

Segundo ele, uma inflação alta e volátil reduz o crescimento potencial da economia e afeta a geração de empregos e renda. “Inflação alta e volátil gera distorções, aumenta riscos, encurta horizontes de planejamento, prejudica investimentos e o crescimento econômico”, disse.

O diretor destacou que existem sinais mistos sobre a atividade econômica, mas compatíveis com a sua estabilização no curto prazo, com retomada gradual ao longo de 2017, mas com ociosidade ainda elevada no setor produtivo.

Sobre o cenário externo, Viana avaliou que as perspectivas continuam bastante incertas, embora a atividade global esteja mais forte. Ele pontuou que existem impactos positivos sobre os preços das commodities, mas citou incertezas sobre a continuidade desse movimento.

Desinflação difundida

O diretor de Política Econômica do Banco Central reforçou a percepção de que o processo de desinflação ganha força e dá sinais de que deve continuar. “Há um ambiente bastante favorável. A desinflação se difundiu no mercado e sugere que esse processo deverá continuar”, disse.

Questionado sobre eventual redução da meta de inflação para 2019, o diretor disse que essa é uma decisão que será tomada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em junho e caberá ao BC cumprir a meta com os instrumentos de política monetária existentes. Sobre os anos de 2017 e 2018, o diretor disse que essas metas “estão definidas com uns dois anos de antecedência”. “O debate em junho é sobre a meta para 2019”.

Apesar de o mercado debater eventual redução da meta de 2019, o diretor ressaltou que o ano de 2017 “segue no nosso horizonte”. “Continuamos levando em conta 2017”, disse. “No regime de metas, é importante ter perspectiva com horizonte adequado. Se isso se perpetuar e você olhar para trás verá que a inflação tende a oscilar me torno da meta”, disse, ao comentar que nem sempre é possível “reagir na velocidade necessária e muitas vezes não é recomendável”.

O diretor também classificou como “desprezível” a possibilidade de revisão da meta de inflação de 2018. “Do ponto de vista puramente institucional, há possibilidade de avaliar, mas o entendimento é que na atual conjuntura essa possibilidade é desprezível”, disse o diretor na divulgação do Relatório Trimestral de Inflação.

Viana explicou que a possibilidade de revisão do número existe porque está nas regras. De acordo com a norma vigente, o CMN aprova até junho a meta para dois anos à frente e também revisa a meta para o ano seguinte. “É uma possibilidade. Sempre há uma possibilidade porque está nas regras”, disse o diretor.

Mais cedo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o CMN vai revisar a meta de 2018 “para saber se justificaria alguma mudança”. Atualmente, a meta é de 4,5% com 1,5 ponto porcentual de margem para cima ou para baixo.

BC surpreendido

O diretor de Política Econômica do Banco Central afirmou que “com certeza” a autoridade monetária será surpreendida novamente por eventuais surpresas inflacionárias à frente. “Com certeza, vamos ser surpreendidos de um lado ou de outro. Não espero ser surpreendido. Se eu esperasse, mudaria a minha projeção”, disse.

Ele comentou que por definição as projeções econômicas não incorporam as surpresas passadas – no caso da inflação. “Incorporamos a melhor avaliação da economia para frente”, disse. Apesar disso, as surpresas ocorrem e o importante é a simetria, disse o diretor. “O importante é olhar que a inflação média flutue ao longo do tempo e da meta.”

2009

Viana ressaltou que as projeções a partir de 2019 já indicam inflação abaixo de 4,5%. Esse fenômeno mostra que “é bastante plausível que isso tem a ver com a perspectiva da meta no futuro”.

“Para os anos posteriores, para quais não há meta, algumas projeções estão abaixo de 4,50%. É bastante plausível que isso tem a ver com a perspectiva da meta no futuro”, disse o diretor.

Durante a apresentação, o diretor repetiu avaliação feita recentemente pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, de que a taxa de juro ex-post (que leva em conta a inflação passada) subiu nos últimos meses exatamente porque a inflação está caindo. “Estamos vivenciado processo de desinflação muito claro. A taxa ex-post só está subindo porque a inflação está caindo”, disse.

O diretor também apresentou slides sobre um dos boxes do relatório de inflação que analisa o impacto do choque de alimentos na inflação. No estudo, há identificação de choques de preços de alimentos e exclusão de seus impactos primários sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Com essa exclusão, a inflação acumulada nos últimos dois trimestres seria mais elevada, em aproximadamente 0,30 ponto porcentual”, disse o diretor.

Taxa neutra

Ele também reconheceu que a estimativa da taxa neutra de juro é muito difícil de ser feita. “Há incerteza muito grande. E não só um desafio do BC como também para participantes do mercado”, disse.

O diretor comentou que, apesar dessa dificuldade, é possível afirmar que essas taxas “vão evoluir em função da conjuntura”. “Os juros vão ser pautados muito pelo ambiente da economia, regras da economia e outros aspectos”, completou. Ao comentar o tema, o diretor ressaltou que a política monetária “não é refém da taxa neutra”.

Em entrevista para apresentar o Relatório Trimestral de Inflação, o diretor comentou que “não há mágica” em nenhum BC no mundo e não é possível usar como referência um juro neutro “muito diferente” do número real. Quando isso acontece, comentou, há distorções na economia, como atividade muito aquecida ou inflação muito baixa.

Ainda sobre o tema, Viana reforçou o discurso de que as reformas em curso podem contribuir com a redução do juro estrutural da economia brasileira. “Esse é um dos benefícios que poderão vir para todos se essas reformas forem aprovadas com sucesso. Isso vai permitir que a gente tenha taxas médias de juros mais baixas”, disse. “Precisamos ajustar a economia e eliminar distorções.”

Cenário de referência

Carlos Viana explicou que os cenários de projeções para o IPCA que consideram juros constantes – como era o caso do antigo “cenário de referência” do BC – se tornaram menos informativos em um contexto de flexibilização da política monetária. “Os cenários com taxas de juros flutuantes segundo as previsões do Relatório de Mercado Focus são mais relevantes e informativos no momento”, alegou. “Não que os outros cenários, com juros constantes, não sejam informativos, mas o foco relevante são os cenários que consideram juros cadentes”, completou.

Ele chegou a pedir ajuda à imprensa na divulgação da decisão do BC em eliminar o nome “cenário de referência” para as projeções com parâmetros constantes de câmbio e juros.

A autoridade monetária abandonou o uso dos termos “cenário de referência” e “cenário de mercado” no Relatório Trimestral de Inflação desta quinta. Ainda assim, o relatório continua trazendo essas projeções, com outras denominações e apresentadas em outra ordem, ao lado de outros dois cenários híbridos.

Departamento de Estatísticas

O diretor de Política Econômica do Banco Central anunciou ainda uma mudança na estrutura da diretoria com a criação de um novo departamento de estatísticas que ficará a cargo de Fernando Rocha, atualmente chefe-adjunto do Departamento Econômico.

O novo departamento será responsável pelas notas do setor externo, de crédito e política fiscal, que são divulgadas nos últimos dias do mês. Além disso, o departamento também ficará responsável pela pesquisa semanal Focus, que coleta previsões do mercado para uma série de indicadores.

As mudanças foram aprovadas pela diretoria colegiada do BC.

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