A colheita da safra de cebola, encerrada em dezembro nas principais regiões produtoras do País, revela algumas surpresas: diminuição da área plantada, grande oscilação de preços e adoção do sistema de semeio direto. A observação é da área técnica da Seminis, produtora de sementes de cebolas no Brasil e que vem incentivando a técnica do semeio direto para melhorar a lucratividade dos produtores.
A empresa alerta, entretanto, que nem todas as cultivares são adequadas para o plantio adensado – que exige um sistema radicular mais forte – e por isso selecionou três cebolas consideradas adequadas: Mercedes, Princesa e Duquesa. Além dos bons resultados com produtividade e qualidade, essas cebolas são as pioneiras no Brasil com resistência ao fungo Phoma terrestris, causador da doença conhecida como "raiz rosada". Atualmente, as regiões que mais utilizam este sistema de plantio direto são o Triângulo Mineiro e os cerrados de Goiás e Bahia (100% da área cultivada) e interior de São Paulo (30%). A Seminis tem desenvolvido um amplo trabalho de pesquisa e assistência técnica para auxiliar os produtores a manterem a qualidade e produtividade de suas safras.
Semeio direto reduz custos
O semeio direto de cebolas (semeadura diretamente na terra preparada em campo, sem transplantio de mudas) é uma prática que está se disseminado nas principais regiões produtoras, com muitos benefícios, entre eles a redução dos custos de produção no índice de 10 a 12% por tonelada produzida. Os custos são reduzidos na mão-de-obra (pois a etapa de transplantio é eliminada e a mecanização é adotada na semeadura), a produtividade é elevada com o adensamento de plantio (mais bulbos por hectare) e há significativa diminuição do estresse das plantas e dos riscos de ocorrência de doenças, explicam os técnicos da Seminis. A Mercedes, cebola líder de mercado, tem um sistema radicular diferenciado que permite a produção adensada (até 120 plantas por metro quadrado contra 80 do plantio por mudas), com bulbos uniformes e uma boa coloração de casca.
A questão da produtividade é um dos pontos mais ressaltados por quem já adotou a prática. Depoimentos de campo indicam que quatro quilos de sementes podem render em média 55 t/ha. Em regiões mais secas, com temperaturas e período de chuvas bem definidos, como no Cerrado, já foram colhidas até 80 t/ha. Isso significa, segundo o agrônomo da Seminis, Álvaro Peixoto, que podem ser cultivadas de 600 a 650 mil plantas por hectare. Ele explica que no sistema convencional de plantio (semeio em canteiro e transplante de mudas) "são utilizados cerca de dois kg de sementes por hectare, porém o rendimento e a produtividade também caem pela metade". De acordo com o agrônomo e produtor Marcos Gonçalves Gomes, de Monte Alto/SP, outra grande vantagem deste sistema é a redução dos custos com a mão-de-obra, pois plantando diretamente o produtor elimina várias etapas do cultivo, mantendo alta produtividade. Para ele, "o futuro da cebola está no semeio direto".
Mercado oscilante
No mercado de hortaliças, o segmento de cebolas foi o que mais sofreu redução de área plantada nas regiões de cultivo tradicional. Dados da Embrapa e levantamentos regionais estimam que houve uma redução média de 30% da área plantada, além de queda de aproximadamente 20% na produtividade da última safra (devido principalmente a problemas climáticos, que interferiram no tamanho dos bulbos). Hoje a produção de cebolas está concentrada nas regiões de do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (tipo tropical – crioula e precoce), em São Paulo e os cerrados de Goiás e Minas (cebolas híbridas de dias curtos) e o Vale do São Francisco, em Pernambuco (variedades de cebolas tropicais).
A produção nacional de cebolas na safra 2002/03 foi da ordem de 1,2 milhão de toneladas, enquanto a de 2004 está estimada em 900 mil toneladas. Durante o ano, segundo Álvaro Peixoto, os preços também oscilaram muito: houve picos em jun/jul, quando o saco de cebolas foi comercializado em R$ 105,00, mas depois foi caindo e em dezembro o saco de 40 kg está cotado em R$ 12,00. Com esta situação, estima-se que os produtores de forma geral estarão descapitalizados para a próxima safra, com exceção dos produtores dos cerrados, que conseguiram comercializar na alta de preços. Desta forma, a previsão dos técnicos para o próximo ano é que a área se mantenha reduzida, mas a expectativa é que os preços melhorem e se mantenham mais estáveis.