O esgotamento do superciclo de commodities levará o Brasil a ser mais agressivo na busca de acordos comerciais internacionais, afirmou ontem a presidente Dilma Rousseff, um dia após anunciar o início de negociações de um amplo tratado nessa área com o México.

continua após a publicidade

Depois de negligenciar esse setor em seu primeiro mandato, Dilma avaliou que há um “valor estratégico” na integração de países com grandes mercados internos. A visita ao México marcou uma mudança na posição do Brasil, com o anúncio da negociação comercial e a assinatura de um acordo de cooperação e facilitação de investimentos, o primeiro do tipo a ser firmado com um país do continente.

A forte elevação no preço das commodities na última década e os programas sociais do governo deram impulso à expansão do mercado interno, que se transformou em um ativo no momento em que as cotações declinam, afirmou Dilma.

Mas o cenário mudou com a desaceleração da demanda chinesa, que atingiu de maneira especial o minério de ferro, principal produto de exportação do Brasil. Também houve queda acentuada na cotação do petróleo, em razão da elevação da oferta do produto.

continua após a publicidade

“Aquela conjuntura que se caracterizou por preços elevadíssimos e quantidades elevadíssimas vai se estabilizar em um patamar de preços menores e quantidades menores. Não digo para o agronegócio nem para as proteínas, que têm outro desempenho, mas certamente para os minérios e para o petróleo”, observou Dilma.

Em sua avaliação, a mudança obriga o governo a ter um “maior esforço” na área internacional e na busca por acordos que estimulem o comércio além da pauta de commodities – que continuarão a ser importantes, mas não terão o mesmo peso de antes.

continua após a publicidade

Negociação

Se concretizado, o acordo com o México pode ser o mais ambicioso fechado pelo Brasil desde a criação do Mercosul, em 1991. O objetivo é abranger todo o comércio bilateral, com inclusão de serviços, produtos agrícolas, compras governamentais e comércio eletrônico.

Em discurso a empresários brasileiros e mexicanos na noite de terça-feira, 26, Dilma declarou que a integração é um dos caminhos para o crescimento, depois da queda na cotação das commodities. “Nós temos de superar as posturas defensivas e reconhecer o papel do comércio e dos investimentos recíprocos na recuperação de nossas economias.” A presidente disse que o Mercosul não é um obstáculo para negociações comerciais com outros países. “Ele permite (acordos) com a Colômbia, com o Chile, permite com todos os países.” As regras do bloco abrem uma exceção clara para o México. Há anos, o Mercosul negocia um acordo de livre-comércio com a União Europeia.

A negociação com o México não será fechada no curto prazo, disse na terça-feira o subsecretário-geral para América do Sul, Central e Caribe do Itamaraty, Antônio Simões. “Isso não se faz em seis meses.” Se os dois países chegarem a um acordo, o tratado ainda terá de ser aprovado pelos Congressos do Brasil e do México.