A decisão da China de desvalorizar sua moeda ilustra a crescente tendência entre os formuladores da política na Europa e em outras regiões: a importância do câmbio como meio de impulsionar o crescimento econômico e impedir que a inflação desacelere demais.
A ação chinesa também mostra o quão delicadas para os dirigentes de bancos centrais são as decisões de política monetária de outros bancos centrais. No caso da China, a expectativa de um aperto na política monetária do Federal Reserve, o banco central norte-americano, levou à valorização do dólar. Como a moeda chinesa está vinculada ao valor do dólar, isso elevou também o yuan ante o euro e várias moedas de emergentes, pesando sobre as exportações chinesas.
Analistas não veem a decisão da China como a faísca para uma guerra cambial mais ampla, mas sim como uma indicação de que as taxas cambiais continuam a ter um papel central nos esforços dos dirigentes para proteger economias frágeis.
O assessor de macroeconomia global Beat Siegenthaler, do UBS Investment Bank em Zurique, disse que a sensibilidade sobre o câmbio é em geral muito alta entre os bancos centrais. “As opções muito limitadas das ferramentas de política dos bancos centrais resultam que a taxa de câmbio tornou-se uma questão muito maior”, avaliou.
“A Europa é um destino muito grande de exportações [para a China]. A apreciação do yuan ante o euro claramente prejudicou a demanda pelos produtos chineses na Europa”, disse Brian Jackson, analista da consultoria IHS Global Insight em Pequim.
A taxa de câmbio é uma questão com a qual as autoridades europeias se debatem há anos. Diante de uma taxa de câmbio teimosamente alta do euro em 2014, dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) começaram a advertir para o fato de que a força da moeda poderia enfraquecer a inflação, o que em geral leva a políticas de afrouxamento monetário.
As medidas de estímulo subsequentes do BCE – incluindo um plano de compra de bônus de 1 trilhão de euros anunciado em janeiro – levaram o euro a desvalorizar mais de 20% ante o dólar, entre agosto de 2014 e sua mínima em maio deste ano.
As políticas do BCE tiveram efeitos pela Europa. Diante da força do franco suíço, o Banco Central da Suíça abandonou em janeiro o teto da valorização do franco ante o euro. O BC suíço, porém, intervém no mercado cambial desde então, para impedir que o franco se valorize muito e prejudique as exportações europeias para a zona do euro.
No início de 2015, o BC da Dinamarca interveio para manter sua moeda dentro de uma faixa estreita ante o euro. O BC da Suécia também disse que estava pronto para intervir nos mercados cambais, se necessário.
No caso de vários bancos centrais europeus, bem como nos de EUA e Japão, as taxas de juros estão perto de zero ou mesmo negativas. Isso deixa as instituições sem ferramentas tradicionais, como cortes nos juros, para reduzir os custos de empréstimos e impulsionar o crescimento.
É nesse ponto que o câmbio entra em cena. Quando as moedas se desvalorizam, os países em geral veem um impulso em suas exportações. A inflação também tende a aumentar, com preços mais altos para produtos importados. Com muitas grandes economias lutando com a inflação muito baixa, esse é um efeito colateral bem-vindo para os bancos centrais.
O risco acontece quando muitos formuladores de política adotam a mesma ação, o que leva a desvalorizações competitivas e pode acabar prejudicando a economia global. Os dirigentes de bancos centrais têm um acordo quase universal segundo o qual o câmbio deve ser deixado para os mercados financeiros, ainda que digam que as cotações das moeda refletem diferenças nas políticas monetárias.
“É improvável que passemos a ver uma série dessas desvalorizações” na China, afirmou Jackson. Segundo analistas, é preciso acompanhar as economias da Ásia para ver os efeitos dessa ação chinesa. Se os dirigentes de bancos centrais adotarem passos para enfraquecer suas moedas para manter a competitividade com a China, isso pode gerar uma tendência global maior de políticas monetárias mais frouxas. Fonte: Dow Jones Newswires.