Rio (AE) – A desvalorização do real ocorrerá de forma ?perfeitamente natural?, em conseqüência da perda de competitividade das exportações que, por sua vez, vai reduzir o fluxo de divisas para o País, segundo acredita o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Paulo Vieira da Cunha.
Em palestra ontem no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-Rio), ele disse que a queda na cotação do dólar, com forte valorização da moeda brasileira, também foi um resultado ?absolutamente natural? do ?surto? de superávits comerciais que vêm ocorrendo no Brasil e um ?um fluxo muito grande de divisas? no mercado de câmbio.
Para ele, o aumento na cotação do dólar que vem sendo solicitado por exportadores e economistas será ?um processo natural sem dúvida nenhuma e, na medida em que a apreciação do real paulatinamente erodir a competitividade de alguns segmentos de exportadores, a taxa de câmbio vai começar a refletir esse processo. Vai iniciar um processo de depreciação, que seria perfeitamente natural e levará provavelmente a um pequeno déficit em conta corrente, em ambiente de fortalecimento das contas externas brasileiras, com menor vulnerabilidade?.
Cunha fez a observação para ?responder a provocação? da apresentação da sua palestra, por parte do Ibef. O apresentador fez menção ao baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre (0,5% ante o primeiro trimestre) divulgado ontem e sua relação com o câmbio, e disse que esperava um comentário sobre o assunto.
Ajuste
Para o diretor do BC, a questão do ajuste fiscal é o ponto crucial na avaliação atual das agências de risco sobre a economia brasileira. Segundo ele, em cenário de avanços em ?fatores determinantes? para as recentes melhorias de ?rating? do País – como diminuição da vulnerabilidade externa e a ?melhoria estrondosa? nos resultados da balança comercial -, ?ficamos a dever muito ainda na questão de outras reformas estruturais e, particularmente, no ajuste fiscal de longo prazo, principalmente no que diz respeito a qualidade desse ajuste fiscal?.
Segundo ele, os avaliadores de risco não estão mais preocupados com a relação dívida/PIB – ?não é uma preocupação de default? -, mas ?com uma questão fiscal complicada, particularmente em termos da composição dos gastos públicos e seus impactos para frente?.
O diretor do BC não quis conceder entrevista ou responder a perguntas sobre o PIB para a platéia do Ibef com o argumento de que no período entre a reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), encerrada na última quarta-feira, e a divulgação da ata na próxima semana, ?não fazemos qualquer comentário sobre a situação macroeconômica conjuntural?.