O diretor de Energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), Luiz Gonzaga Bertelli alertou que estudos de especialistas informam que o desperdício de energia elétrica no País, é o equivalente à produção de cinco usinas nucleares, similares à Angra 3, que produzirá 1.400 mil megawatts cada, "e isso incomoda muito diante de um quadro de escassez cada vez mais próximo".

continua após a publicidade

Ele disse ainda que o consumo predatório da energia é causado pelo uso de máquinas antigas e motores ultrapassados, lâmpadas obsoletas, aparelhos domésticos e iluminação urbana. Para suprir a falta de energia elétrica no País, uma esperança frustrada do governo era o da transformação da biomassa em eletricidade. Contudo, os projetos não corresponderam às expectativas. Existe acentuado corporativismo no setor elétrico que evita no planejamento energético o uso da biomassa, principalmente do bagaço da cana.

Um alentado estudo da Fiesp estima que se forem instaladas caldeiras e turbinas mais eficientes para processar o rejeito de industrialização da cana, poderiam ser gerados mais de 5 mil megawatts de eletricidade na safra em curso de 2006/07. "Isso deveria ocorrer a um custo relativamente competitivo de R$ 109 megawatts/hora, preço inferior às hidrelétricas (R$ 112), carvão (R$ 145), óleo combustível (R$ 175) e eólica (R$ 232)", disse.

Hoje, todas as indústrias sucroalcooleiras geram energia para o consumo próprio, mas somente 10% delas, de um total de 350 unidades, vendem o excedente no mercado. Algumas usinas de açúcar e álcool continuam desmotivadas, diante de investimentos necessários para a modernização dos equipamentos e dos baixos preços praticados nos leilões de energia. Com a suspensão da queima da cana e aproveitamento da palha, o potencial gerador irá crescer substancialmente.

continua após a publicidade

Bertelli informou que além da hipótese do desabastecimento elétrico, as empresas nacionais, principalmente as eletrointensivas, já convivem com as tarifas mais altas, reajustadas em cerca de 150%, no período de 2001 a 2006. A tarifa subiu de R$ 82 por megawatts/hora para R$ 206/megawattts/hora. "Foram criados no período dez novos encargos governamentais, além dos tributos normais, enquanto o IPCA variou apenas 50%", disse o especialista.

E arremata: "Com as usinas térmicas, a energia ficará mais cara e até viabilizam, economicamente, as nucleares. O Brasil já adquiriu US$ 750 milhões em equipamentos para a usina nuclear 3 e eles estão armazenados, em Angra, há 21 anos, com gastos de manutenção da ordem de US$ 20 milhões anuais. Energia é insumo fundamental, a fim de assegurar a competitividade dos setores, como a indústria siderúrgica e do alumínio".

continua após a publicidade

Ele explicou que apesar do esforço desenvolvido para alcançarmos a auto-suficiência, as importações do petróleo correspondem a cerca de 200 mil barris diários. "Em compensação, nos primeiros dias de julho, o álcool hidratado é vendido nas usinas a R$ 0 57/litro, enquanto o anidro, misturado à gasolina (25%) a R$ 0 66. Em decorrência, o combustível da cana amplia, sensivelmente, a sua participação no mercado das energias, incentivando a venda de veículos multicombustíveis (flex). As tarifas elétricas tendem ao crescimento, pois a eletricidade está ficando escassa" informou.

Risco de falta energia

Um fato deixa Bertelli mais preocupado: "Persiste o risco de faltar eletricidade, a partir de 2010 ou antes, na dependência das chuvas. Desde 2003, elas continuam generosas e os atuais reservatórios das usinas hidrelétricas permanecem cheios".

É inteiramente verdade que a construção de novas usinas hídricas ou térmicas, movidas a gás natural ou derivados do petróleo, demorem em média 5/7 anos para sua conclusão, isto se forem concedidas as decantadas autorizações ambientais. Na última década, o tempo médio para a concessão de licença prévia para as novas usinas hídricas foi de mais de três anos. Saíram apenas dez licenças ambientais, no quatriênio passado. Enquanto a nova energia não vem, o melhor para as empresas brasileiras é racionalizar o seu emprego, concluiu o diretor de Energia da Fiesp, Luiz Gonzaga Bertelli.