Desemprego feminino cai, mas renda continua desigual

Os efeitos da crise econômica internacional afetaram mais os homens que as mulheres no mercado de trabalho brasileiro em 2009, mas as desigualdades históricas de renda persistem. É o que mostra a pesquisa “Trabalho e Desigualdades de Gênero” divulgada hoje pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

No ano passado, as mulheres ocuparam mais postos de trabalho do que foram criados e, por conta disso, a taxa de desemprego feminina recuou, ao contrário da masculina. Mas a pesquisa também mostrou que permanece grande a diferença entre os salários de homens e mulheres. “2009 foi um ano bom, mas precisaríamos de muitos mais como esse para equiparar a condição da mulher no mercado de trabalho”, afirmou a socióloga Márcia Guerra, analista do Seade.

Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), a taxa de desemprego feminino caiu pelo sexto ano consecutivo em 2009, para 16,2%, de 16,5% em 2008. Entre os homens, houve elevação de 10,7% para 11,6% no período. Segundo o Seade/Dieese, a redução do desemprego entre as mulheres deve-se à criação de novas vagas de trabalho em setores que têm presença notadamente feminina, como os Serviços (+1,6% vagas) e o Serviço Doméstico (5,6%). Na outra ponta, houve forte redução do emprego na indústria (-7,4% vagas para os homens), o setor mais afetado pela crise e com presença notadamente masculina. “A taxa de desemprego masculina é mais aderente à conjuntura econômica”, afirmou Márcia Guerra.

Na questão salarial, embora o rendimento médio real por hora das mulheres ocupadas tenha crescido 3% em 2009, para R$ 6,17, esse valor equivale a apenas 79,8% do que ganham nos homens na Grande São Paulo, embora seja um nível maior que os 76,5% de 2008. A remuneração masculina caiu 1,4% no ano passado. Mulheres com nível superior ainda ganham 30% menos que os homens.

A pesquisa do Seade/Dieese também mostrou que o trabalho doméstico continua a ser alternativa importante de trabalho para as mulheres da RMSP, embora o perfil dessa trabalhadora esteja passando por transformações. Depois do setor Serviços, o Serviço Doméstico é o maior empregador da região mais rica do País. As trabalhadoras domésticas passaram de 19,2% da mão de obra ocupada na RMSP em 2000 para 17% em 2009, enquanto as que trabalham em Serviços foram de 50% para 53,5% no período.

A parcela de jovens (10 a 17 e 18 a 24 anos) no trabalho doméstico tem caído nos últimos anos em favor das mulheres mais velhas e com menor instrução. “O aumento do nível de escolaridade da população tem feito com que as jovens procurem outras profissões no mercado de trabalho”, explicou Márcia Guerra. Entretanto, nota-se um aumento de mulheres com ensino médio ou superior incompleto (de 6,7% em 2000 para 20,2% em 2009) entre as trabalhadoras domésticas.

“Ocupações como babás e acompanhantes de idosos e outras funções ligadas à saúde têm aumentado por conta do envelhecimento da população e da maior inserção da mulher no mundo do trabalho”, disse. Ainda assim, 60% das trabalhadoras domésticas possuem apenas até o ensino fundamental. Sua remuneração também está bem abaixo da média salarial feminina na Grande São Paulo. Enquanto a média é de R$ 1.030 por mês, o doméstico ganha apenas R$ 543 mensais.