Desempenho do emprego é trágico

O desempenho do emprego em janeiro foi considerado “trágico” pelos coordenadores da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Fundação Seade e do Dieese. Nada menos que 221 mil postos de trabalho foram fechados no mês passado no conjunto das seis regiões metropolitanas pesquisadas – Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Salvador (BA), São Paulo (SP) e Distrito Federal (DF). O resultado só não foi pior porque 145 mil pessoas deixaram o mercado de trabalho no mês, em um movimento típico para o período. “Essas pessoas, por declararem não estar procurando emprego no mês, não são consideradas desempregadas, mas inativas. Em abril, elas devem voltar a procurar emprego e aí sim serão consideradas desempregadas”, explicou o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio.

Por esse motivo, o contingente de desempregados aumentou em 75 mil pessoas na comparação com dezembro, o maior crescimento para meses de janeiro de toda a série histórica do levantamento iniciado em janeiro de 1998. “A quantidade de desempregados sempre cresce de dezembro para janeiro, mas esse aumento nunca foi tão grande”, ressaltou Lúcio. Na avaliação dele, os dados mostram que a crise chegou com força ao emprego. “Normalmente, o resultado do emprego no primeiro trimestre já fica comprometido por motivos sazonais. Agora, esse comportamento típico para o mês foi agravado pela desmobilização de trabalhadores pelas empresas, que não tem sido pequena”, analisou.

Segundo ele, embora as demissões nas grandes empresas tenham mais visibilidade, é nas micro e pequenas que o impacto da crise é mais forte. Nelas, o desemprego aparece de forma diluída e o ajuste costuma começar pelos trabalhadores menos qualificados e com salários menores. É o que mostra o dado referente ao rendimento médio real dos ocupados, que subiu 1,1% em dezembro ante novembro apesar do aumento do desemprego verificado em janeiro. Clemente explicou que isso ocorreu porque o emprego despencou 4,9% entre os trabalhadores sem carteira assinada, que é a mão de obra tipicamente utilizada pelas micro e pequenas empresas. Dos 127 mil trabalhadores do setor privado demitidos nas seis regiões metropolitanas em janeiro, 96 mil não tinham carteira assinada.

Também apresentou recuo significativo (-2,2%) em janeiro ante dezembro o número de trabalhadores autônomos, com a perda de 69 mil empregos.

No cálculo da Fundação Seade e do Dieese, as informações sobre emprego e desemprego são apresentadas de forma agregada em trimestres móveis. Assim, a taxa de desemprego de janeiro corresponde ao trimestre móvel de novembro, dezembro e janeiro. Esse deve ser mais um fator que contribuirá para elevar o desemprego no primeiro trimestre deste ano, já que os resultados de novembro e dezembro de 2008 deixarão de fazer parte do cálculo em março. “Teremos resultados ruins no emprego nos próximos três meses e faremos torcida para que eles não cheguem a atingir todo o primeiro semestre”, disse Lúcio.

Ele não arriscou um número, mas destacou que a manutenção dos investimentos públicos e dos programas de transferência de renda, bem como o aumento do salário mínimo e seu impacto nas aposentadorias e no seguro-desemprego, serão fundamentais para que o consumo das famílias se mantenha nos próximos meses. “Isso será mais relevante do que políticas que aumentem o crédito”, avaliou.

Em janeiro, o desemprego aumentou em todas as seis regiões metropolitanas, exceto em Salvador, onde a taxa caiu de 19,8% em dezembro para 19,4% em janeiro, influenciada pelo desempenho do comércio, cujo nível de ocupação aumentou 6,4% ante dezembro. Apesar disso, a capital baiana ainda possui a maior taxa de desemprego entre as regiões pesquisadas.

Os maiores aumentos na taxa de desemprego foram verificados em Belo Horizonte, que passou de 8,4% em dezembro para 8,8% em janeiro, e São Paulo, onde o desemprego subiu de 11,8% em dezembro para 12,5% em janeiro. Apesar disso, as regiões figuram entre as que possuem a menor taxa de desemprego entre as seis regiões, juntamente com Porto Alegre, que registrou taxa de 10% em janeiro. No Distrito Federal, o desemprego ficou em 15,7% e no Recife, em 18,3%.

Todos os setores – indústria, comércio, serviços, construção civil e outros segmentos – registraram diminuição no nível de ocupação, exceto o comércio em Salvador, como já foi citado, e a construção civil no Recife, com alta de 7,2% ante dezembro.

Para se ter uma ideia da intensidade da crise, o nível de ocupação recuou 1,3% em janeiro ante dezembro, bem mais que o 0,2% verificado em janeiro de 2008 ante dezembro de 2007. Em janeiro de 2009, em relação a janeiro de 2008, porém, o nível de ocupação ainda registra alta de 2,6%, com elevação em todos os setores, exceto no agregado Outros Segmentos (-0,9%). “O que preocupa é a perda de dinamismo e de geração de empregos em todos os setores, principalmente na indústria, que tem efeito multiplicador sobre os outros setores”, ressaltou Lúcio. A queda do nível de ocupação na indústria foi de 2,9% em janeiro ante dezembro. “O sinal amarelo acendeu de fato”, declarou.

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