O presidente do comitê de investimento do FI-FGTS, Carlos Eduardo Abijaodi, diz que o desembolso de R$ 22 bilhões do fundo para infraestrutura vai depender do sucesso dos leilões que o governo tenta destravar em 2016.
Ao anunciar pacote de crédito de R$ 83 bilhões na semana passada, o governo incluiu os recursos que estavam parados no fundo de investimento. O FI-FGTS utiliza recursos do FGTS para investir em rodovias, portos, hidrovias, aeroportos, ferrovias, energia e saneamento. Na teoria, esses empreendimentos de longo prazo garantiriam a valorização das cotas do fundo.
Para inflar o número final do pacote, o governo colocou os R$ 22 bilhões que já tinham sido autorizados pelo conselho curador do FGTS para serem usados pelo fundo de investimento, que não encontrou projetos que fossem rentáveis e se enquadrassem nas regras de governança do fundo.
A esperança de Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é que o resultado das licitações seja positivo a ponto de reverter a desconfiança dos empresários para investimentos de longo prazo. “No caso das concessões, as regras já são claras. Acaba um pouco com a incerteza e a insegurança deste momento econômico”, afirma. Para ele, se o governo conseguir sucesso em quatro leilões, já “dá uma boa carga” na liberação de recursos do fundo.
A expectativa da equipe econômica é destravar 21 leilões em 2016 nas áreas de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos, com investimentos estimados em R$ 70 bilhões nos próximos anos. Para analistas, porém, só uma parte desses projetos tem real chance de sair do papel neste ano. Na terça-feira, 2, a presidente Dilma Rousseff prometeu, em sessão solene do Congresso Nacional, acelerar as concessões em logística. Ela citou os leilões de 26 portos públicos e 6 trechos de rodovias, além da grande aposta do setor privado – os leilões dos aeroportos de Salvador, Fortaleza, Florianópolis e Porto Alegre.
Segundo Abijaodi, a Caixa deve anunciar, em breve, modificações nas regras do FI-FGTS para permitir que o fundo conheça a estruturação das operações, mesmo antes do resultado dos leilões. A medida ajudaria a reduzir o tempo de análise dos projetos e a liberação mais rápida dos recursos para as empresas que saírem vencedoras. A estimativa do banco oficial, que administra os recursos do fundo, é que o prazo pode cair dos cerca de três anos que leva a análise de um pedido atualmente para um ano.
O FI-FGTS foi criado para ser um dos grandes financiadores de infraestrutura do País, mas o momento econômico atual e pressões políticas levaram o comitê a suspender a aprovação de novos projetos entre 2014 e meados do ano passado. No ano passado, a única operação aprovada foi a transferência de R$ 10 bilhões do FI-FGTS para o BNDES. Outros três projetos – no valor de R$ 2,2 bilhões – tiveram as votações adiadas.
Cerca de um terço dos R$ 33 bilhões que constituem o patrimônio do fundo estão em projetos de empresas afetadas pela Lava Jato. Entre eles, R$ 2,6 bilhões em títulos de dívida de longo prazo da Sete Brasil, fornecedora de navios plataformas para exploração da Petrobras no pré-sal, além de R$ 557,4 milhões no FIP Sondas, que controla 95% da empresa. No balanço de 2014, o FI-FGTS reservou R$ 374 milhões para cobrir eventuais perdas com a companhia.