Descaso leva contabilistas a fazer protesto

As enormes filas de atendimento na Receita Federal e no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) foram os motivos para que contabilistas de Curitiba se reunissem, ontem, em um protesto pelo centro da cidade. Uma passeata com centenas de pessoas saiu da Boca Maldita até a Receita Federal, na Avenida Marechal Deodoro, e o posto do INSS na Rua João Negrão. Além da melhora do atendimento, a reivindicação da categoria é pela criação de um sistema on-line para a abertura de empresas e obtenção do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

Os contabilistas acreditam que a criação de um sistema pela internet para a obtenção do CNPJ pode tornar o processo menos burocrático e estimular a abertura de empresas. ?Hoje, temos que fazer o pedido pela internet e enviar todos os documentos autenticados pelos Correios. Demora 40 dias. Se ocorre um erro, como o CEP estar errado, volta para a gente. Tem que gastar tudo novamente. É uma situação insustentável. Há um descaso com a abertura de empresas. O atendimento deve ser mais digno, pois isto representa oportunidade de emprego e renda?, afirma o presidente do Sindicato dos Contabilistas de Curitiba (Sicontiba), Narciso Doro.

Um projeto sobre o CNPJ on-line foi entregue há 40 dias pela entidade ao ministro Paulo Bernardo, do Planejamento. Nos âmbitos estadual e municipal, já existe uma rede pela internet que resolve as pendências do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e de alvará de funcionamento.

Além dos cidadãos comuns, os contadores também precisam enfrentar as gigantescas filas da Receita e do INSS. ?Tivemos o caso de uma contabilista que ficou na fila em frente ao INSS desde de meia-noite e meia. Dormiu na calçada e, quando foi atendida, ainda precisou voltar depois pela falta de um documento?, conta Doro. O contador Nilson Macan, que trabalha na área desde 1969, lembra que é preciso pegar duas senhas diferentes no INSS para ser atendido. ?As senhas ainda são limitadas para cada tipo de serviço. Você perde o dia inteiro com isso?, relata.

Na opinião do técnico contábil Ricardo Nogari Siqueira, a categoria virou funcionário do governo, pois precisa dar tudo ?mastigadinho? para os órgãos públicos. ?Somos intermediários na arrecadação e não temos o mínimo de compreensão. 99% dos tributos federais passam pelas mãos dos contadores?, declara. Ele conta que já precisou enfrentar fila de seis horas na Receita, desde as 5 da manhã, sob chuva e frio. Siqueira diz que até roubos acontecem com as pessoas que precisam ficar na fila.

Para Siqueira, a criação da Super-Receita, que une Receita Federal e Previdência Social, só vai piorar a situação para aqueles que precisam de atendimento. ?Vai travar tudo. Se está em débito no INSS, por exemplo, vão bloquear a Receita, e vice-versa. Será mais tempo na fila por causa da vinculação?, conclui. O presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná, Maurício Smijtink, acredita que a união das receitas nada adiantará se o governo federal não investir em mão-de-obra e tecnologia. De acordo com ele, a entidade já propôs disponibilizar uma sala dentro de sua sede aos órgãos públicos, com toda a estrutura necessária para desafogar o sistema, mas não obteve resposta.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo