Quatro anos depois de a presidente Dilma Rousseff escolher Alexandre Tombini como presidente do Banco Central, os desafios enfrentados pela autoridade monetária não foram vencidos ou se tornaram mais complexos. A última vez que o BC projetou a inflação no centro da meta, em 4,5%, ou um número abaixo desse valor, foi no Relatório Trimestral de Inflação de março de 2012, quando a expectativa era de que o IPCA terminasse aquele ano em 4,4%. Essa projeção, no entanto, foi superada ao fim do ano, quando o indicador atingiu 5,84%.

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Em dezembro de 2010, Henrique Meirelles, então presidente do BC, entregou ao seu sucessor uma inflação que evoluía desfavoravelmente, mas com perspectivas positivas. Do lado externo, pressões vindas das commodities puxavam o custo de vida para cima. No cenário doméstico, o descompasso entre oferta e demanda também era visto como fonte de pressão.

A projeção de inflação, naquele ano, mostrava que 2010 terminaria com IPCA em 5,9%, mas que o movimento de alta era passageiro e o reajuste de preços recuaria gradativamente até o primeiro trimestre de 2012, quando alcançaria o centro da meta, de 4,5%. O quadro não se confirmou. Passados quatro anos, a inflação seguiu na trajetória contrária, o BC se viu obrigado a revisar suas projeções e, agora, o mercado vê crescer o risco de estouro do teto da meta, de 6,5%.

Ao comparar os relatórios de inflação de dezembro de 2010 – após a eleição de Dilma -, com o último documento divulgado pela autoridade monetária, em setembro deste ano, houve deterioração dos indicadores e nenhuma das projeções do BC se concretizou. “O Banco Central acreditou demais na política fiscal e talvez não enxergasse que a gestão das contas públicas chegasse ao ponto que chegou”, argumentou o professor de finanças da Fundação Dom Cabral Haroldo Mota. “Essa variável pode ter atrapalhado as projeções do BC”, disse.

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Enquanto analistas e economistas de fora do governo observam com preocupação a possibilidade de a inflação romper esse limite de tolerância, o BC prevê que o ano termine com IPCA em 6,3%. Essa previsão, no entanto, pode ser revisada para pior. Apesar de não ter escrito ainda em seus cenários (ao menos não nos de conhecimento público), o BC diz que a convergência para a meta deve ocorrer apenas em 2016.

Tombini e Dilma chegam ao fim de 2014 com previsões frustradas, promessas desfeitas e com uma taxa Selic mais alta do que encontraram. Se as projeções do mercado se concretizarem, o governo entregará uma Selic de 11,50% ao ano – 0,75 ponto porcentual maior do que vigorava no início do primeiro governo Dilma. Na época, em janeiro de 2011, os juros eram de 10,75% ao ano. A última vez que a Selic esteve tão alta (em relação às previsões para o final deste ano) foi em outubro de 2011, quando chegou a 11,50%.

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Em 2010, pouco antes de o governo Dilma começar, o BC previa que em cinco trimestres o IPCA recuaria para 4,5%. O cenário mais recente da instituição, no entanto, não projeta que esse número seja alcançado, prevê apenas uma desaceleração do custo de vida até o terceiro trimestre de 2016. Para o economista-chefe da Invx Global Partners, Eduardo Velho, o BC ficou refém de um quadro com política fiscal expansionista e de baixo crescimento econômico.

“Isso prejudicou a eficácia operacional do BC. Se considerarmos que a política econômica foi muito mais centralizada, tem de se analisar não apenas a gestão Tombini, mas o mandato do governo como um todo”, defendeu o economista.

Para o economista-chefe da Espirito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, o BC não podia ter se limitado em função de crescimento econômico ou dúvida em relação a política fiscal. “O instrumento do BC é a Selic, ele não tem de se preocupar com o trabalho dos outros”, observou. “Continuando o Tombini no BC, teremos uma condução de política monetária que aposta que a coisa vai dar certo lá na frente. Não vejo um combate mais árduo da inflação”, afirmou. O Banco Central, procurado pela reportagem, disse que não se manifestaria.