Desafio agora é evitar novo rebaixamento

Não adianta chorar sobre o leite derramado, e a estratégia do governo agora deveria se voltar a evitar que o Brasil perca o grau de investimento pela segunda das três principais agências internacionais de rating, depois que a Standard & Poor’s tomou essa decisão. Se a segunda perda ocorrer, é o gatilho para que muitos investidores institucionais externos tenham que reduzir ou eliminar suas aplicações no Brasil, o que teria um impacto muito mais severo no câmbio, na inflação e na estabilidade da economia.

O País tem pouco tempo para agir, mas ele existe. No caso da Fitch, o Brasil está um degrau acima do grau de investimento, e com perspectiva negativa. Se vier um downgrade, o grau de investimento ainda é preservado. Já na Moody’s, o Brasil está com perspectiva estável no primeiro nível do grau de investimento. A situação é mais delicada, porque as agências não precisam necessariamente mudar a perspectiva para negativa antes de rebaixar. Mas, ainda assim, a perspectiva estável cria algum espaço de reação. Sinais emitidos pelas duas agências nos últimos dias indicam, para usar as palavras de Joaquim Levy, ministro da Fazenda, que não há um “afã” de tirar o grau de investimento do Brasil.

Bráulio Borges, economista-chefe da consultoria LCA, nota que estudo do FMI de 2010, com foco nas ações de rating das três grandes agências durante a crise global, indica que a S&P tem um padrão “mais cíclico e volátil” do que a Moody’s e a Fitch. Isso significa que a S&P tenderia a agir mais rápido e intensamente que as outras duas.

Borges cita dois exemplos. Durante a crise asiática do final da década de 90, a S&P rebaixou o rating da Coreia do Sul até quatro degraus abaixo do grau de investimento, comparado ao rebaixamento para apenas um degrau abaixo da Moody’s. Em 2011, na briga entre Executivo e Congresso nos EUA sobre limites de endividamento público, a S&P foi a única das três a retirar o triplo A. Moody’s e Fitch se contentaram com a perspectiva negativa.

No caso do Brasil, a S&P foi a primeira a dar grau de investimento, em 30 de abril de 2008, o que de certa forma confirma que a agência é “rápida no gatilho”, como sugere a análise de Borges. Por outro lado, Moody’s e Fitch seguiram a S&P ainda em 2008, o que é bem menos tranquilizador.

Alto risco

O economista-chefe da LCA nota ainda que o credit default swap (CDS, uma espécie de seguro contra calote) da dívida brasileira está acima do russo (títulos de cinco anos nos dois casos), pelo menos até o fechamento de ontem: 387 pontos-base para o Brasil, 366 para a Rússia. No entanto, a Rússia perdeu este ano o grau de investimento pela S&P e pela Moody’s e está no primeiro degrau dessa classificação pela Fitch, com perspectiva negativa.

“Eu diria que a Rússia está muito próxima de perder o grau de investimento das três agências, e, no entanto, o Brasil está pior que a Rússia para os mercados”, diz Borges. Isso, para ele, explicaria porque a reação do câmbio até agora ao downgrade da S&P foi menos intensa do que o esperado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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