economia

Demanda por qualidade impulsiona pecuária

A produção de bezerros deu um salto de produtividade nos últimos 19 anos no Brasil e segue embalada na esteira de um novo perfil de mercado interno para a carne bovina. “No ano 2000, a cria brasileira gerava 45 bezerros de 170 kg de peso médio de 100 vacas, que ocupavam 250 hectares. Hoje, são obtidos 65 bezerros de 200 kg de 100 reprodutoras que, por sua vez, ocupam uma área média de 140 hectares”, destaca o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), Sérgio de Zen.

No 4.º Simpósio Internacional de Reprodução, Produção e Nutrição de Bovinos (Repronutri 2019), encerrado na sexta-feira, em Campo Grande, o especialista disse que a evolução da genética “mudou a reprodução” na bovinocultura de corte, atendendo a uma demanda cada vez maior por carne de qualidade.

“Em São Paulo, por exemplo, quem está viabilizando o bezerro é o mercado de cortes nobres”, afirma, lembrando que é cada vez maior o número de butiques de carne pelas cidades. “Alguém conhece alguma butique de frango?”, provoca De Zen, enfatizando as diferenças entre as cadeias produtivas.

Essa nova tendência apontada por ele vai ao encontro de comportamentos de mercado adotados por gigantes do setor de proteína. Em setembro, por exemplo, a JBS (que obtém 51% de seu faturamento no mercado americano) reuniu mais de cem investidores e empresários em Nova York (EUA) para anunciar que neste ano voltou seu foco totalmente para a produção gourmet, dando prioridade a marcas e valor agregado.

A tecnificação exigida para se produzir um bezerro que vai gerar um boi de qualidade também está, segundo o pesquisador do Cepea, ajudando a fixar o criador na atividade. “Quem sai da cria e tenta voltar hoje vai levar pelo menos cinco anos para engrenar”, estima De Zen.

No mesmo simpósio na capital sul-mato-grossense, o ex-professor da Universidade do Nebraska (EUA) e atual líder na América do Norte da multinacional MSD Saúde Animal, Judson Vasconcelos, também destacou o surgimento de novas demandas. Ele alerta, porém, que muitos desses ajustes de hábitos alimentares estão colocando sob suspeita a bovinocultura de corte, sobretudo com a chegada de novas alternativas em proteína, como os hambúrgueres veganos, por exemplo: “A mudança no perfil do consumidor é uma tendência mundial e a pecuária precisa responder bem a isso. Os novos hábitos alimentares vêm de minorias, mas a cadeia industrial está se adaptando ao que o consumidor pede”.

O Repronutri 2019 reuniu 905 inscritos e participantes do Brasil e das Américas do Sul e do Norte.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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