O ‘caso IBGE’, como a crise no instituto é chamada nos gabinetes da equipe econômica em Brasília, já tomou o Congresso Nacional, especialmente quente devido à proximidade das eleições. O DEM protocolou nesta segunda-feira, 14, na Câmara dos Deputados um requerimento pedindo a convocação da ministra do Planejamento, Miriam Belchior. O partido de oposição quer que a ministra preste esclarecimento na Comissão de Fiscalização e Controle sobre a crise instalada no IBGE, causada pela saída de diretores que discordavam de mudanças propostas pelo governo na Pnad Contínua, que visa substituir o atual índice de desemprego calculado na chamada Pesquisa Mensal de Emprego (PME).

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A convocação, se aprovada, torna a presença da ministra obrigatória. “Existem indícios de que o governo quer transformar o instituto em agente de notícias eleitoreiras”, disse o líder do partido na Casa, deputado Mendonça Filho (PE).

Objetivo eleitoral. O vice-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), afirmou que a manifestação dos técnicos do IBGE fortalece a tese de que a suspensão da pesquisa teve objetivo “eminentemente eleitoral”. “É para esconder a realidade dos números sobre desemprego do país. É evidente que suspender uma pesquisa tão respeitada quanto essa do Pnad é sem dúvida ficar sob suspeição.”

O tucano disse que o caso é ainda mais delicado porque dois senadores da base aliada, que são candidatos a governo nos respectivos estados, a petista Gleisi Hoffmann no Paraná, e o petebista Armando Monteiro, em Pernambuco, questionaram os dados da pesquisa. Dias ressaltou que vai apoiar a iniciativa de Randolfe Rodrigues de convidar a ministra do Planejamento e outras autoridades do IBGE para falar sobre o assunto.

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A alta temperatura do “caso IBGE” divide técnicos do governo federal. Enquanto alguns avaliam que a crise envolvendo a postergação do anúncio da Pnad Contínua por um ano, para janeiro de 2015, está sendo inflamada por “sindicatos da extrema esquerda, ligados ao PSOL” e pela “oposição de direita”, outros entendem que o IBGE deveria liberar imediatamente a pesquisa.

“A justificativa para a prorrogação é plausível, uma vez que os resultados vão balizar as transferências constitucionais de receitas federais para os Estados. A teoria de que há ingerência política do governo para evitar a publicação da pesquisa seria desarticulada com a edição da Pnad. Os eventuais transtornos serão com as finanças estaduais, então se estão criticando o IBGE por ser sensível aos apelos de parlamentares, passariam a ver que não há nada a ver com ingerência” disse um economista do governo, inconformado com a crise política no instituto.

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Na semana passada, a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, afirmou que o instituto foi procurado por parlamentares preocupados com a metodologia de cálculo da renda domiciliar per capita da Pnad Contínua. Entre as dúvidas estava aquela relativa aos intervalos de confiança das estimativas por unidade da federação (UF), uma vez que essas estimativas servirão de base para o rateio do Fundo de Participação dos Estados (FPE), conforme exige a Lei Complementar 143/2013.