Delfim diz que acordo com FMI foi uma farsa

São Paulo

  – O deputado federal Delfim Netto (PPB-SP) disse ontem que considera uma farsa o acordo “fechado às pressas” com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ele, as informações divulgadas até o momento – basicamente a manutenção de 3,75% do superávit primário e a redução de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões do piso das reservas líquidas internacionais – não são suficientes para conseguir a aprovação dos candidatos à Presidência da República nem do mercado.

“O FMI sabe que essa taxa de 3,75% é insuficiente, tem de ser isso no mínimo. Mas não aceitar o acordo é o default amanhã”, disse Delfim. Ele avalia, no entanto, que no dia seguinte à eleição do novo presidente, devem ser anunciadas as novas exigências para a liberação do empréstimo. O pacote do Fundo é de US$ 30 bilhões – com apenas US$ 6 bilhões ainda para este ano.

O deputado fez uma previsão de superávit primário de 5,4%. Esse número é calculado em operação envolvendo a taxa de juros reais, a taxa de crescimento e a relação dívida/Produto Interno Bruto (PIB). “Para honrar o acordo, a necessidade de superávit primário é de 5,4% e o Fundo sabe aritmética, como nós”, afirmou. Delfim prevê ainda que o Fundo exigirá a realização das reformas tributária e previdenciária e a flexibilização do mercado de trabalho. “É impossível um acordo sem o aumento das condicionalidades”, disse.

Imposições do Fundo

Na avaliação do ex-ministro, o pacote acertado com o FMI vai acabar restringindo o crescimento da economia, a não ser que o próximo governo adote um forte programa de exportação e substituição de importações para diminuir a dependência externa. “Aos poucos a coisa vai emergir e a volatilidade vai voltar. O dólar caiu e voltou a subir, o que mostra que o mercado está refazendo sua opinião sobre a qualidade do empréstimo.”

Até o convite do presidente Fernando Henrique Cardoso aos presidenciáveis, para discutir os termos do acordo, foi uma determinação do Fundo, na avaliação de Delfim. “Esse movimento de chamar os candidatos é porque o FMI quer ouvir mais alto a adesão dos presidenciáveis ao acordo”, disse Delfim, referindo-se à manifestação dos candidatos sobre o empréstimo.

Segundo Delfim, a situação é delicada e, aos poucos, os candidatos que disputam a sucessão presidencial começam a desconfiar dos benefícios do financiamento. “O acordo é uma bóia para Fernando Henrique, mas uma âncora para quem ganhar a eleição”, disse Delfim. “Provavelmente, a coisa mais prática que vai acontecer no encontro de segunda-feira é que vai ser servido um cafezinho. Acho que a conversa é necessária porque poderemos conhecer melhor as condições do acordo. Gostaria de ser otimista e achar que o FMI não fará o que já fez antes, mas ele tratou muito mal os argentinos”, disse Delfim. O deputado fez palestra ontem de manhã na Associação Comercial de São Paulo.

Brasil sofre forte ataque especulativo

São Paulo

(AE) – O economista e professor-coordenador dos cursos de graduação do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, Carlos Alexandre da Costa, concorda com as informações veiculadas pelo jornal argentin La Nación de que o Brasil está sofrendo um poderoso ataque especulativo. Ele lembrou que os ataques especulativos tradicionais aconteciam quando os investidores, imaginando que a moeda de um país ia se desvalorizar, passavam a vendê-la.

Em entrevista concedida ontem à Rádio CBN-SP, o economista citou o caso do ataque na Indonésia, onde os investidores pegavam recursos em rúpias e as vendiam para comprar dólar. Depois, esperavam que ela se desvalorizasse para comprar mais rúpias e assim pagar os créditos feitos naquela moeda.

Carlos Alexandre da Costa declarou que, no caso do Brasil, com o câmbio flutuante, o ataque não acontece mais contra a taxa de câmbio em si mas, sim, contra os títulos da dívida brasileira. “Várias empresas e principalmente o governo, que é o nosso maior devedor, têm créditos no exterior. Os investidores internacionais que possuem esses títulos da dívida do governo ou das empresas brasileiras, com uma expectativa negativa sobre a possibilidade do pagamento no dia dos compromissos, começam a vender os títulos.”

O economista exemplificou o caso daqueles que possuem C-Bond no exterior, considerado um dos principais títulos da dívida brasileira. Pensando que o próximo governo, por um motivo ou por outro, não vai pagar o título, esses investidores começam a vendê-lo e o preço passa a cair. “Essa queda no preço do título equivale por uma operação de matemática financeira a um aumento da taxa de juros implícita nesse título, que é o chamado risco-Brasil, que começa a subir, que é o outro lado da moeda, digamos, da queda de preço do C-Bond” – avaliou. “Isso é que é um ataque especulativo, ou seja, todos os operadores do mercado financeiro começam a tomar a mesma atitude achando que, com isso, ou vão ter um ganho ou vão evitar uma perda.” Costa avalia que, se todo mundo quer vender o titulo ao mesmo tempo, o preço cai e a taxa de juros implícita começa a subir.

Para ele, essa prática poderá resultar em graves problemas financeiros para o País.

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