Em um momento de aperto, o brasileiro está deixando de pagar principalmente as contas básicas, como as de água e luz. O calote nesses débitos subiu 7,6% nos 12 meses encerrados em julho, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito Brasil (SPC). No mesmo período, as dívidas bancárias – como cheque especial, empréstimos pessoais e cartão de crédito – subiram 6,9%.
A decisão sobre qual conta atrasar, segundo o SPC e a Serasa Brasil, está ligada ao fato de que os juros, nas contas de água e luz, serem bem mais baixos do que os cobrados em débitos ligados a instituições financeiras. Além disso, o reajuste das contas básicas superou a inflação. Desta forma, o Brasil formou uma legião de “equilibristas” de contas, de acordo com a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti. “O jeito é manter algumas contas em dia, enquanto o orçamento está apertado.”
É justamente isso o que tem feito a viúva Rita A., de 52 anos, que pediu para ter a identidade preservada. Em alguns meses, a conta de luz é a eleita para ser paga depois; em outros, os boletos do condomínio ou do telefone ficam na gaveta. A situação ficou mais complicada há poucos meses, quando uma carta de cobrança chegou com a informação de que ela devia cerca de R$ 9 mil do financiamento de seu apartamento.
“Meu filho estava na faculdade e precisou sair do trabalho para poder estagiar, então deixei de pagar as parcelas do imóvel e só voltei a pagar quando ele já estava formado e trabalhando. Agora, tenho tentado pagar uma das parcelas atrasadas e uma das atuais por mês.”
Causa
Para Gireffe Contini, gerente do Serasa Consumidor, o desemprego é a principal variável que eleva o total de inadimplentes no País. A taxa de desemprego no segundo trimestre ficou em 12,4%, segundo o IBGE. No fim do primeiro trimestre, um trabalhador da Grande São Paulo levava quase um ano procurando emprego, em média, aponta a Fundação Seade e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O Brasil nunca teve tantos inadimplentes. Em julho, o total de brasileiros com dívidas em atraso chegou a 63,4 milhões, segundo o SPC, contingente equivalente à população da Itália. O número assusta, porque a série histórica mostrava uma melhora na inadimplência de março a setembro de 2017, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil. No entanto, a reversão das expectativas da economia afetou essa trajetória.
Perfil
Os mais pobres ainda são os que mais devem, mas é entre as famílias de maior renda que a inadimplência tem resistido, indica a mais recente pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Enquanto o porcentual de famílias de menor renda com dívidas pendentes caiu de 29%, em julho de 2017, para 26,7%, agora, no grupo com renda superior a dez salários mínimos, o índice de inadimplentes alcançou 10,8%, ante 10,6% do mesmo mês do ano passado.
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