A previsão de um déficit em transações correntes ainda maior do que o inicialmente projetado pelo Banco Central para 2018 está em linha com a atividade econômica, avalia o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha. Nesta sexta-feira, 23, a autoridade monetária elevou a previsão para o resultado negativo deste ano nas transações com o exterior de US$ 18,4 bilhões para US$ 23,3 bilhões. Em 2017, o valor havia sido de US$ 9,762 bilhões.
Rocha ressaltou que o aumento se deve a fatores como importações maiores, principalmente por conta de maiores compras de insumos pelas empresas brasileiras, e de um déficit maior na conta de serviços. A projeção para as importações passou de US$ 166 bilhões para US$ 169 bilhões e, para os serviços, de US$ 37,7 bilhões para US$ 38,1 bilhões.
Já as estimativas de despesas com juros subiram de US$ 16,9 bilhões para US$ 19,4 bilhões por conta de atualizações da dívida externa e aumento de juros no mercado internacional. Por outro lado, houve uma redução nas projeções de lucros e dividendos para o ano de US$ 25,5 bilhões e US$ 24,5 bilhões em função de receitas maiores recebidas no primeiro bimestre, acima do esperado pelo BC. “Isso não deve se repetir em março”, acredita Rocha.
Março
As contas externas devem continuar com saldo positivo no mês de março. Projeção anunciada pelo chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central indica expectativa de saldo positivo em transações correntes de US$ 200 milhões. Em fevereiro, o resultado ficou positivo em US$ 283 milhões, o melhor para o período desde 2007 – quando a conta corrente teve saldo positivo de US$ 326 milhões.
Rocha notou que, se confirmados os números esperados para o mês de março, haverá uma inflexão no comportamento do indicador em 12 meses, que passará a registrar “ligeira alta do déficit”. Isso acontece porque o indicador deixará de contar com o superávit de US$ 1,4 bilhão registrado em março de 2017.
O técnico do BC notou, porém, que o comportamento é o esperado para o ano.
Parciais
O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central informou que a despesa com juros da dívida externa somou US$ 332 milhões no mês de março, conforme dados preliminares até o dia 21. Essa conta, notou o técnico, tem sido diretamente influenciada pelo aumento do custo do crédito no exterior, especialmente diante do movimento de alta do juro nos Estados Unidos.
A despesa com juros no primeiro bimestre somou US$ 6,077 bilhões, valor 2,5% maior que o registrado em igual período do ano passado. O aumento do juro nos EUA também acaba beneficiando, por outro lado, a receita com juros obtidas com as reservas internacionais. No total dessa conta – que inclui as reservas e outras operações, o Brasil conseguiu US$ 964 milhões no bimestre, valor 20% maior que o registrado um ano antes.
O técnico do BC informou também que o volume líquido de remessa de lucros e dividendos soma US$ 1,487 bilhão no dado preliminar de março, com números até o dia 21.
Viagens
A conta de viagens internacionais registra déficit de US$ 690 milhões no mês de março até o dia 21. O dado preliminar foi divulgado por Fernando Rocha. Segundo ele, o dado preliminar indica gastos totais de US$ 1,082 bilhão de brasileiros no exterior e receitas de US$ 392 milhões obtidas com estrangeiros em viagem no Brasil.
Apesar da permanência da trajetória de déficit na conta de viagens, Rocha chamou atenção para o fato de que as receitas com turistas estrangeiros no Brasil tem crescido e somou US$ 611 milhões em fevereiro. Esse foi o maior valor para o mês da série histórica iniciada em 1995.
Rocha cita o carnaval como fato de atração, mas diz que o crescimento parece mais robusto, mas diz que é preciso aguardar mais indicadores para entender esse movimento. “Para completar esse cenário, vamos precisar de informações do Ministério de Turismo, da Embratur, que fazem pesquisas amostrais sobre gastos médios e tempo de permanência”, disse.
Investimento estrangeiro
Março registra forte saída de investidores estrangeiros de investimentos financeiros no Brasil. Dados preliminares divulgados pelo Banco Central indicam que o fluxo líquido de estrangeiros para ações brasileiras registrou saída de US$ 3,708 bilhões no mês até o dia 21. Na renda fixa, o movimento foi idêntico e US$ 2,148 bilhões deixaram investimentos em papéis emitidos no País.
O movimento anula parte do observado nos dois primeiros meses do ano. No acumulado do primeiro bimestre, o Brasil havia atraído US$ 4,176 bilhões em investimentos estrangeiros em ações e outros US$ 6,418 bilhões em recursos para a renda fixa.
O chefe do departamento de estatísticas do Banco Central não demonstrou preocupação com o movimento de saída de março. Segundo ele, os últimos meses têm mostrado volatilidade, com ingressos e saídas de recursos, mas com resultado final próximo da estabilidade.
Taxa de rolagem
Rocha informou que a taxa de rolagem total até o dia 21 de março foi de 56%, o que significa que não houve captação de recursos suficientes para renovar os vencimentos do período. No caso dos títulos de longo prazo, a taxa de rolagem até a quarta-feira foi de 49%. Já para empréstimos, ficou em 57%.
Fluxo cambial
O Brasil registrou saída de US$ 4,857 bilhões nos 21 primeiros dias março, informou Rocha.
A saída de dólares continua sendo liderada pelo canal financeiro, que registrou saída líquida de US$ 9,010 bilhões. O valor é resultado de envios para o exterior de US$ 38,662 bilhões no acumulado do mês e a entrada de US$ 29,651 bilhões no mesmo período. O segmento financeiro reúne os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações.
O comércio exterior continuou com firme resultado positivo e saldo de US$ 4,153 bilhões, já que as exportações somaram US$ 12,212 bilhões e superaram com folga as importações de US$ 8,058 bilhões no período. Nas exportações, estão incluídos US$ 2,619 bilhões que ingressaram no Brasil através de contratos de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), US$ 2,482 bilhão via Pagamento Antecipado (PA) e US$ 7,111 bilhões em outras entradas.
Com a saída de dólares no mês, a posição vendida dos bancos no mercado cambial cresceu de US$ 16,585 bilhões em fevereiro para US$ 21,461 bilhões em março, no dia 21.