Depois de nove meses consecutivos de alta, a taxa básica de juros (Selic) foi finalmente freada. Para alguns empresários e analistas ouvidos pelo O Estado, a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) em manter a taxa a 19,75% ao ano, porém, pode ter chegado tarde demais.
?Nós, empresários, esperamos sempre que o governo reduza a taxa de juros. Felizmente, só o fato de não ter havido um novo aumento já é muito positivo?, avaliou o presidente do Sistema Fecomércio (Federação do Comércio no Paraná), Darci Piana. Para Piana, a demora em frear a taxa Selic já estava refletindo negativamente nas vendas do comércio. ?O comércio já começou a declinar de abril para cá. Isso preocupa.?
Conforme pesquisa divulgada esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Paraná apresentou o pior desempenho nas vendas do comércio em abril, com queda de 3,33%, contra crescimento de 3,40% em nível nacional. ?Essa decisão (de manter a Selic) demorou para ser tomada. Agora, o empresário está preocupado não só com a taxa de juros, mas também com a queda na produção agrícola, especialmente no interior do Estado. O próprio cenário político está tirando incentivo dos empresários?, afirmou Piana. ?Agora é hora de o governo começar a reagir e a reduzir os juros já no mês que vem, nem que seja só 0,5%?, concluiu.
Para o técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), economista Cid Cordeiro, a decisão de frear a subida da taxa Selic não só chegou tarde demais, como as elevações consecutivas nem deveriam ter ocorrido. ?É um patamar muito alto, e a maior crítica é que essa elevação não tinha razão de chegar aonde chegou?, criticou. Segundo o economista, o que tem pressionado a inflação não é a demanda, mas os preços administrados, preços das commodities.
Cordeiro lembrou que o atacado já começou a observar deflação. ?Dependendo da velocidade com que essa deflação será repassada para o varejo, o governo deve promover a redução da taxa de juros antes mesmo do último trimestre do ano?, apontou Cid Cordeiro. ?A expectativa de crescimento do País já caiu de 3,5% para 2,8% por conta dessa política ortodoxa?, criticou o economista.
Esgotamento
Para o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Vamberto Santana, ?o Copom compreendeu que o procedimento utilizado até agora chegou ao esgotamento?. Depois de nove meses seguidos de aumento da Selic, Santana acredita que o governo deve analisar a idéia de retomar a redução gradativa da taxa de juros. ?O governo deve privilegiar a política expansionista. Mesmo porque uma crise econômica só aumentaria a crise política?, observou. Para o professor, a taxa de juros já poderia ter sido reduzida em março, quando a ?economia começou a apresentar sinais de desgaste?. ?Os juros já chegaram ao limite?, arrematou.