Dez anos antes do frenesi que levou as incorporadoras imobiliárias para a bolsa de valores, em 2007, a Rossi já estava lá. Foi a primeira empresa do setor a abrir o capital. Das que sobreviveram, também foi a primeira a se aventurar por boa parte do território brasileiro, instalando canteiros de obras de Porto Alegre a Manaus. Quando o financiamento imobiliário praticamente não existia, ela decidiu financiar seus próprios clientes com um plano que revolucionou o mercado na época. Era arrojada e tentava inovar com projetos modernos, quando o estilo neoclássico tomava conta da paisagem. O prestígio que a Cyrela, maior incorporadora do País, tem hoje, estava nas mãos da Rossi na década de 90. Se uma empresa pudesse viver do passado, ela hoje estaria muito bem, obrigado.

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Mas, nos últimos anos, a incorporadora fundada pelos irmãos João e Edmundo Rossi percorreu o caminho contrário. Os R$ 661 milhões que a empresa lucrou entre 1997 e 2011 viraram pó nos últimos três anos e meio, quando teve um prejuízo acumulado de R$ 938 milhões.

A dívida também cresceu. No momento em que o setor estava cheio de dinheiro e de crédito, pressionado pelos investidores a explorar novas praças, comprar terrenos e expandir, a empresa multiplicou sua dívida por 13: de R$ 241 milhões, em 2009, para R$ 3,1 bilhões, 2012.

Na Bolsa, as ações da Rossi valem R$ 0,91. Só não estão mais baratas que as da Viver, que há um ano vem liquidando suas operações e se tornando quase invisível no mercado. Entre os analistas de corretoras que acompanham a companhia, a Rossi despertou, neste ano, tanta preocupação quanto a PDG, que deixou o topo do ranking de maior incorporadora do setor, em 2011, para liderar a lista de endividamento.

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“Essas empresas valem na Bolsa menos da metade do que devem para os bancos”, diz um analista. “Hoje, elas estão nas mãos dessas instituições financeiras.” No caso da Rossi, o maior credor é o Bradesco.

Reduzir o endividamento passou a ser a prioridade da companhia. Em agosto, depois de tentar levantar dinheiro com fundos de investimento, entre eles os gringos Cerberus e Blackstone, João Rossi assinou contrato com duas assessorias financeiras, uma delas, a RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, especializada em reestruturação de dívida, e a Maxcap Real Estate, do executivo José Paim. De certa forma, foi uma maneira de a família Rossi se agarrar ao passado.

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Quando começou a construir prédios residenciais na década de 80, o grupo tinha uma dezena de outros negócios mais importantes do que esse em seu portfólio, como a Engemix, uma das maiores empresa de cimento do País, e a empreiteira Engevix, ambas vendidas para outros grupos. Até uma fábrica de calçados em Franca (SP) pertencia aos Rossi. Com tanta coisa para cuidar, a família “terceirizou” a administração da incorporadora para um ambicioso engenheiro de 27 anos, que logo virou sócio minoritário.

Como o negócio imobiliário, no início, era secundário para os irmãos João e Edmundo, logo o engenheiro foi deslocado para Franca, com a missão de reestruturar a fábrica de calçados e vendê-la. De volta a São Paulo, ele decidiu transferir os conceitos da indústria para a construção de imóveis, com projetos replicáveis de prédios residenciais para a classe média baixa. Estava criado o Plano 100, pelo qual a Rossi até hoje é conhecida no setor. A engenharia financeira por trás dele, que permitiu o financiamento direto dos clientes, foi feita à mão pelo tal engenheiro: José Paim.

O sucesso do Plano 100 levou a companhia à bolsa de valores e tornou o segmento residencial o mais relevante para a família. Em 1997, a empresa valia R$ 154 milhões – quase o dobro do que vale hoje. Três anos após a abertura de capital, Paim deixou a Rossi para ter seus próprios negócios no setor imobiliário, entre eles a incorporadora Max Haus, com conceito de arquitetura aberta, sem planta definida. Embora também esteja sofrendo com o desaquecimento do mercado, a Max Haus é considerada um caso bem sucedido no mercado – ao contrário da Ecoesfera, outro investimento de Paim com o banco Merrill Lynch, que vendia prédios sustentáveis e acabou virando um mico.

Ao todo, foram quase 15 anos longe da Rossi. O interesse de fundos de investimento estrangeiros por empresas do mercado imobiliário em dificuldade o reaproximou da incorporadora no início deste ano. Paim e Ricardo K. tentaram negociar a entrada do fundo Cerberus na empresa, mas o interesse dos gringos diminuiu com o agravamento da crise política no País – um problema para a família Rossi, que já havia decidido não fazer novos aportes de capital na companhia. O último, de R$ 200 milhões, foi em 2012.

As consultorias de Paim e de K., conhecido por ter participado da reestruturação das empresas de Eike Batista e de algumas empreiteiras envolvidas na Lava Jato, assinaram um contrato de dois anos com a Rossi, com a condição de receberem uma comissão parruda ao fim desse período em cima da valorização da empresa. “Eu voltei porque vi de fato uma oportunidade de fazer a empresa ser tão rentável quanto ela já foi um dia”, diz o executivo da Max Cap. “A Rossi não vai quebrar, nem vai entrar em recuperação judicial.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.