Davos reforça percepção de que retomada segue em LUV

O Fórum Econômico Mundial deixa ainda mais claro que a superação da crise ocorre de forma desigual entre os países e gera uma sopa de letras para a definição do formato da recuperação econômica.

Neste momento, o cenário aponta que a retomada forma o acrônimo “LUV”, a forma simplificada de dizer “love”. “L” para a recuperação na Europa, “U” nos Estados Unidos e “V” nos emergentes, como destacou Martin Wolf, colunista do Financial Times.

“A situação é assimétrica”, afirmou o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. O debate sobre a perspectiva para a economia global, realizada nesta sexta-feira em Davos, ressaltou as diferentes situações vividas principalmente pelos Estados Unidos e a China.

Enquanto o desemprego segue subindo e afligindo os norte-americanos, a China lida com os temores de inflação e bolha especulativa. “Os EUA estão em recuperação estatística e recessão humana”, disse o conselheiro econômico do presidente Barack Obama, Lawrence Summers.

Ele ressaltou que um entre cinco homens com idade entre 25 e 54 anos estão sem emprego no país. Na sua avaliação, o crescimento seguirá modesto por vários trimestres.

De outro lado, o vice-presidente do Banco da China, Zhu Min, lembrou o avanço de 8,7% do PIB no ano passado, com a consequente alta da inflação. Segundo ele, será preciso administrar o excesso de capacidade de produção do país, já que o investimento cresceu muito mais do que o consumo em 2009 – diferença que deve diminuir em 2010.

Uma das questões mais difíceis desta fase da recuperação global é saber o momento e a velocidade ideais para desmontar as medidas emergenciais criadas para combater a crise. Se demorar, os países podem ter problemas fiscais ainda mais graves. Se for muito rápido, há risco de um novo mergulho, no formato de “W”.

Para Strauss-Kahn, o elevado déficit fiscal em diversos países é um grande problema para os próximos anos. No entanto, ele avalia que o risco maior é eliminar os estímulos antes do momento adequado e jogar a economia em situação mais complicada no curto prazo. “Nossa recomendação é não sair dos estímulos cedo demais.”

A ministra de Economia da França, Christine Lagarde, concorda e avalia que a questão do prazo para a reversão das medidas é crucial. Para ela, o desafio será fazer um balanço entre a recuperação econômica, a reforma do sistema financeiro e a restauração das finanças públicas. “São como placas tectônicas se ajustando.”

“A situação é frágil, o mercado está nervoso novamente e o risco soberano se tornou uma questão importante”, avalia o presidente do conselho de administração do Deutsche Bank, Josef Ackermann.

Outra questão relevante é reduzir os desequilíbrios globais provocados pelos déficits nos EUA e superávits na China. O tema é delicado, passa pela necessidade de valorização do yuan e gera um jogo de empurra entre os países.

Strauss-Kahn avalia que a própria crise está fazendo com que as diferenças diminuam, já que os consumidores norte-americanos estão poupando mais, enquanto a China buscar estimular o consumo interno. “Mas isso não é o suficiente.”

O vice-presidente do Banco da China, Zhu Min, admite que um modelo de crescimento baseado somente nas exportações não é sustentável e que o país busca mudanças estruturais – o que, portanto, leva tempo. Ele se diz “aberto” a resolver os desequilíbrios, mas pede “cooperação internacional”.

A necessidade de reforma do sistema financeiro internacional também foi tema do debate de hoje em Davos. O diretor-geral do FMI acredita que a nova regulamentação deve ser feita de forma coordenada entre os países, para não gerar desequilíbrios e alterações nos fluxos de capital.

Isso porque, se apenas algumas nações apertarem as regras, o dinheiro vai migrar para as praças menos restritivas. “Precisamos ir mais rápido com a reforma financeira”, disse Strauss-Kahn.

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