Enquanto executivos do governo da França tentam demonstrar “serenidade” à imprensa europeia e brasileira, o principal acionista da Dassault, companhia fabricante do caça Rafale, não hesita em reconhecer sua expectativa quanto à decisão de Brasília.
Um dos três concorrentes da licitação FX-2, destinada a renovar a esquadrilha da Força Aérea Brasileira (FAB) com 36 novas aeronaves, o jato militar é uma alternativa para um mercado civil ainda em crise.
A ansiedade veio a público graças ao desabafo do acionista número 1 da companhia Dassault Aviation, Serge Dassault. Filho do fundador, Marcel Dassault, ele está afastado do comando do grupo desde 2000, mas segue ativo como conselheiro.
E, na contramão do atual diretor-presidente da empresa, Charles Edelstenne, que preserva o silêncio, o herdeiro reconheceu a importância da venda do Rafale, não apenas para o Brasil, mas também para os Emirados Árabes Unidos, outro cliente potencial.
“Até este momento, ainda não há encomenda do Brasil, mas todas as esperanças são permitidas”, afirmou Serge, em entrevista à Radio Classic, da França, no fim da semana passada.
O início das vendas do Rafale – um caça até aqui jamais exportado e usado apenas pela Força Aérea Francesa – seria uma injeção de ânimo na empresa em meio à recessão.
Em razão da crise econômica, que atinge em particular as grandes fortunas da Europa e dos Estados Unidos, as vendas do produto mais procurado da Dassault, o avião executivo Falcon, estão em queda.
“Desde janeiro (de 2009) não vendemos muitos Falcons. Mas não se trata simplesmente de uma questão de preço, mas também da crise e do crédito”, afirmou. “Nada disso ainda se recuperou muito bem, mas eu espero a retomada. E há os Rafale, também, que nós esperamos vender”, afirmou Serge Dassault.
A queda nas vendas do Falcon é a razão pela qual duas das quatro usinas de produção da Dassault, Martignas e Biarritz, seguirão em férias coletivas, enquanto outras duas, Selon e Argenteuil, só retomarão a atividade em março.
A empresa, no entanto, não fornece detalhes sobre o número de encomendas canceladas em decorrência da crise. Os resultados da empresa no exercício de 2009 só serão revelados em março.