Dados de maio mostram que ciclo recessivo não foi revertido, aponta CNI

O retrato da indústria no mês de maio mostra que o quadro recessivo ainda não foi superado, afirmou nesta quarta-feira, 6, o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. “Na prática, o que os dados mostram é que o ciclo recessivo não foi revertido”, disse. De acordo com a CNI, o faturamento real caiu 3,8% em maio ante abril, enquanto o número de horas trabalhadas recuou 3,6% no mesmo período.

Castelo Branco ponderou, contudo, que desde maio houve acontecimentos relevantes, que já modificaram o cenário econômico. A votação do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff (PT), e a posse do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), com mudanças na equipe econômica, foram as principais mudanças desde então. “Maio e abril foram meses politicamente conturbados, e os dados refletem isso. Mas muito mudou depois disso”, disse.

O gerente executivo disse ainda que as quedas no faturamento real da indústria devem ter fim em breve, uma vez que o indicador já ensaiou aumentos nos últimos meses, embora não tenham se sustentado. “Esperamos que (retração) tenha um fim em breve, que comece a mostrar certa reversão no quadro do faturamento da indústria. A ideia é de que atingiu fundo do poço”, afirmou.

No caso do emprego, a recuperação deve demorar um pouco mais, uma vez que a queda nos indicadores tem sido contínua, notou Castelo Branco. Em maio, a queda de 0,8% ante abril foi a 16ª consecutiva e levou o emprego ao nível do início de 2006. “O mercado de trabalho da indústria segue deteriorado”, afirmou.

Confiança

A mudança de governo proporcionou uma melhora na confiança dos empresários da indústria, mas ainda em medida insuficiente para trazer efeitos para a economia real, afirmou Castelo Branco. “Entre ficar mais confiante e retomar processo de investimentos, precisa de outras condições mais objetivas”, disse.

Segundo Castelo Branco, a mudança no comando do País após o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) e a consequente troca na equipe econômica acabaram tendo efeito positivo sobre a confiança. A predisposição em fazer uma reforma da Previdência também contribuiu nesse sentido, destacou. Mas a confiança permanece no campo negativo.

“Isso ainda não se transferiu para situação real das empresas”, disse o gerente-executivo. “Em algum momento, consolidando expectativas positivas, pode ser que se transfira para o setor real da economia, mas é preciso outras condições. O grau de confiança ainda não é suficientemente alto ou forte para promover retomada da economia”, destacou.

Uma das dificuldades mais urgentes é resolver o quadro fiscal. Castelo Branco disse que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que institui um teto para os gatos é importante, mas se trata de um processo “muito longo”.

“No curto prazo, temos problema muito sério que é como conviver com um déficit dessa magnitude”, avaliou. Neste ano, o governo estima fechar as contas no vermelho, com um déficit de R$ 170,5 bilhões, seguido de novo rombo em 2017, entre R$ 150 bilhões e R$ 160 bilhões.

Na avaliação da CNI, o déficit no setor público e a elevada necessidade de financiamento do governo acabam tirando recursos do mercado que poderiam ser direcionados às empresas. “Crédito de curto prazo é fundamental. Sem isso, as empresas têm dificuldade de operar normalmente. Mas o déficit no setor público acaba abafando o crédito direcionado ao setor privado”, disse Castelo Branco.

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