A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está em processo de formalização do planejamento estratégico para 2023, de acordo com o presidente da autarquia, Leonardo Pereira. Ele diz que não vê uma grande alteração específica, mas que um aperfeiçoamento contínuo será levado a diante. No topo da lista de prioridades, está a questão do risco, segundo Pereira.

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“Priorizamos algumas atividades para melhor estabelecer nosso papel. Neste contexto, aprimoramos nossa organização de risco para nos programarmos melhor diante da nova realidade do mercado de capitais”, disse, durante o 3.º Congresso Internacional de Gestão de Riscos, promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

A organização dá-se com base em alguns pilares, conforme o presidente da CVM, como a atividade de supervisão preventiva dos diversos grupos sob o guarda-chuva da comissão e a identificação dos riscos. “No caso de ‘shadow banking’ (sistema bancário paralelo), por exemplo, dois pontos são fundamentais: o entendimento claro das novas estruturas e sua transparência, e a capacitação dos compradores para entender bem os produtos”, citou.

Na análise de Pereira, num momento em que se discute a entrada de novos atores no mercado de capitais, referindo-se às bolsas de valores que pretendem entrar no País, a CVM quer ter certeza que “a estrutura e a integridade do mercado continue com alto nível de credibilidade”.

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O presidente da comissão comentou a revisão de algumas instruções, como a 358, que diz respeito à qualidade das demonstrações financeiras. “Está claro que os negócios estão complexos e que há uma tendência de se privilegiar a quantidade em detrimento da qualidade. Mais do que nunca, tem de haver um esforço para se focar em materialidade e substancialidade”, ressaltou.

Outro ponto destacado por Pereira foi a questão da governança corporativa. Na avaliação do presidente da autarquia, é fundamental que haja qualidade na estrutura que analisa, debate e toma decisões dentro de uma organização. “Isso tem de ser ancorado por pessoas que conheçam o que estão fazendo, com responsabilidades definidas e segurança para agir em momentos de mudanças externas. Estruturas de governança fracas têm sido um dos fatores que mais contribuem para que as coisas saiam erradas”, disse.

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Nesse sentido, o presidente destacou a importância dos conselhos de administração e das altas-gerências. “É necessário que os membro do conselho participem de questões estratégicas para assegurar que elas sejam executadas com sucesso pela gerência executiva”, observou, reconhecendo que é natural que alguns conselhos ainda se acostumem à nova realidade.

“Criar cultura de risco e fazer com que essa discussão seja central é fundamental e exige tempo, foco e compromisso. É uma tarefa estratégica, que exige discussões abertas e desarmadas”, afirmou, acrescentando que uma má governança abre portas para uma série de outros riscos. “Não se pode adivinhar o que vem pela frente, e a única solução é estar pronto para lidar com o inesperado. Olhando para frente, nunca se pode acreditar que uma situação já está resolvida, é preciso que haja contínua vigilância”, destacou.

Pereira falou também sobre uma tendência de harmonização entre os reguladores, e afirmou que é fundamental em qualquer mercado que haja uma coordenação entre os diversos agentes. “Temos trabalhado bastante nisso”, citando “um convênio forte” que a autarquia tem com o Banco Central (BC).

O presidente da CVM afirmou ainda que o mercado de capitais do Brasil tem tudo para ser robusto, mas que conta com vários desafios, como ampliar o número de empresas listadas e lidar com as novas formas de fluxo de informação, a sofisticação de produtos e as mudanças tecnológicas.

“Estamos prestando atenção no que pode ser feito para destravar o mercado. O tema risco é complexo é até um pouco árido, mas é fundamental que ele não seja deixado de lado. Se estamos falando de crescimento e regulação mais eficaz, esse tema sempre terá que estar no centro da mesa de todo mundo”, declarou.