Rio (AE) – A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) marcou para o início de fevereiro o julgamento do inquérito aberto, em 2002, para apurar suspeita de vazamento de informações durante a operação de venda de parte das ações do governo no Banco do Brasil. Na época, segundo fontes, o próprio ministro da Fazenda, Pedro Malan, desconfiou da movimentação atípica com os papéis da instituição e solicitou à CVM uma investigação profunda do caso. Entre os dias 9 e 10 de abril daquele ano, os negócios com as ações do BB somaram R$ 2,7 milhões, quando o normal seria um giro inferior a R$ 1 milhão.
A movimentação aconteceu dias antes do Banco do Brasil divulgar um fato relevante anunciando a intenção do Tesouro Nacional em convocar uma Assembléia Geral Extraordinária (AGE) para propor a conversão das ações preferenciais do banco em ordinárias e a alteração do estatuto para possibilitar a entrada da instituição no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).
Todas as mudanças tinham como objetivo valorizar uma oferta da fatia do papéis do BB a ser vendida pelo Governo. A operação, porém, não decolou por falta de interessados. Essa foi a primeira tentativa do Tesouro Nacional, que só conseguir implementar a oferta pública em meados do ano passado.
Entre os indiciados no inquérito aberto pela CVM para investigar o uso de informação privilegiada durante o processo de elaboração da oferta estão os ex-presidentes do BB, Paolo Zaghen e Eduardo Guimarães, e membros do conselho de administração do banco na época, como o ex-presidente da ANP, David Zylberstajn, o ex-presidente da CVM Francisco Costa e Silva e o ex-diretor da autarquia, Eliseu Martins.
Esse é o primeiro caso de suspeita de vazamento de informação a ser julgado em 2007. Mas, a expectativa do presidente da CVM, Marcelo Trindade, é que este ano sejam analisados pelo colegiado do órgão boa parte dos inquéritos abertos no ano passado para investigar suspeita de ?insider information? em operações no mercado de capitais. No final de 2006, Trindade afirmou que algumas apurações já estão em estágio avançado e devem ser julgadas ao longo dos próximos meses.
Atualmente, a CVM tem seis inquéritos abertos sobre suspeita de vazamento de informações. ?Essa é uma investigação difícil, mas não é impossível. Alguns casos já estão bem avançados?, disse Trindade. Os constantes vazamentos vêm preocupando o presidente da CVM, que chegou a fazer reuniões com representantes da Anbid e da Abrasca para discutir o problema.
A oferta da Sadia pela Perdigão, as reestruturações societárias da Telemar, Vivo, Embraer e Perdigão e as negociações do Itaú para a compra do Boston são apenas alguns dos episódios mais recentes de vazamento de informação.