A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está fechando o cerco contra irregularidades em fundos de previdência fechados. Na minuta de instrução que colocou em audiência pública nesta terça-feira, 24, além de propor restrições para investimentos dos chamados Regimes Próprios de Previdência dos Servidores (RPPS), abriu espaço para que os agentes do mercado avaliem também a possibilidade de estender as medidas para Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), nome técnico dos chamados fundos de pensão.

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Além disso, tem sido particularmente rígida na avaliação de casos suspeitos de irregularidades que envolvem essas entidades, como na decisão que retirou do mercado por um ano a Vórtx DTVM, a Orla DTVM e a Argus Classificadora de Risco de Crédito, envolvidos em uma emissão de debêntures suspeita de irregularidades da Venture Capital Participações e Investimentos.

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“A CVM está particularmente interessada em receber manifestações do mercado acerca da possibilidade de estender tais limitações a fundos com a participação relevante de outros tipos de cotistas específicos, como as Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC)”, declarou a autarquia no comunicado ao mercado sobre a audiência pública.

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A ideia de aumentar as barreiras de investimentos para fundos de pensão não é nova e ganhou força após a operação Greenfield e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Fundos de Pensão. Hoje mesmo, o colegiado julga o BNY Mellon em um caso envolvendo um fundo de investimento do Postalis (fundo de pensão do Correios).

Os gestores e as próprias entidades, principalmente as maiores, têm trabalhado ativamente para evitar tais medidas, o que explica a decisão da autarquia de não impor tais restrições e abrir espaço para o debate.

Na minuta para os Regimes Próprios dos Servidores, as medidas visam prioritariamente fazer com que essas entidades busquem fundos de varejo. Os gestores de fundos com mais de 15% do patrimônio nas mãos desses investidores terão várias limitações adicionais. Não poderão, por exemplo, comprar papéis de securitizadoras não registradas nem participar de ofertas públicas sob o regime de esforços restritos, nas quais o registro é dispensado.

“O porcentual (15%), à primeira vista baixo, busca estimular que os RPPS invistam em fundos ofertados ao mercado em geral e objeto de análise por parte de outros investidores. A constituição de veículos de investimento específicos para esse tipo de investidor tem se mostrado potencialmente problemática, haja vista a incidência maior de irregularidades nessas estruturas, conforme se tem evidenciado por meio da atividade de supervisão das ofertas submetidas ao rito de esforços restritos”, afirma a CVM no comunicado.

O caso da Vórtx, da Orla e da Argus na emissão de debêntures da Ventura Participações explica tais medidas. O relatório da área técnica mostra que os agentes são alvo de várias investigações por realizar ofertas mediante a divulgação de informações que não se afiguram verdadeiras, consistentes, corretas e suficientes. Isso levou o colegiado a suspender os agentes por um ano. Como não puderam atuar no cancelamento das operações, já que as ofertas registrada nos termos da instrução CVM nº 476, com esforço restrito e dispensadas de registro, em tese, não podem ser canceladas, a autarquia está atuando na ponta dos investidores.

A decisão de suspensão dos agentes, porém, foi considerada controversa por advogados que acompanham a CVM. A avaliação é que a área técnica e o colegiado estão preocupados em passar uma imagem de força e testar os limites do mercado, mas corre o risco de sufocar o mercado e judicializar suas ações.

“A CVM quer diminuir a impressão de que age muito depois do fato. As gestoras estão morrendo de medo porque uma decisão dessa quebra a empresa”, diz um advogado que acompanha os julgamentos da CVM.

Para quem atua na defesa das empresas, há espaço para questionar as decisões na própria CVM e até judicialmente. A decisão da Ventura Participações, por exemplo, equipara gestores e administradores, quando a responsabilidade é principalmente do gestor, o que pode ser questionado na Justiça.

Apesar das críticas, a expectativa é que aumente a pressão sobre o mercado. Uma parceria firmada no fim de junho coloca a Anbima para atuar ao lado da CVM, como já faz a B3, por meio da BSM, e endereça um dos principais problemas da CVM: a falta de pessoal para realizar todas as ações de fiscalização.