Custos altos e câmbio ameaçam a empresa nacional

Criada em 1950, a fabricante de armação de óculos Metalzilo foi capaz de superar a estagnação da economia, os mirabolantes planos econômicos do Brasil adotados por várias décadas antes da chegada do Plano Real, em 1994, e duas sucessões familiares. Mas nada tem sido tão devastador como a difícil combinação atual: custos altos e câmbio valorizado. Por um lado, criou-se um ambiente perfeito para a invasão de produtos importados chineses, por outro, minou-se a competitividade nacional no mercado externo, resume o empresário Rinaldo Dini, dono da Metalzilo.

A empresa, que já chegou a exportar 20% da produção para a Europa, Emirados Árabes, África e América Latina, há três anos não faz nenhuma venda para o mercado internacional. “Para exportar, temos de ter preço. Mas, com o câmbio e o alto custo interno que temos no Brasil, fica difícil”, afirma o empresário.

Para piorar esse cenário já preocupante, a fábrica, fundada pelo pai Victório Reinaldo Dini e um amigo italiano, sofre uma concorrência predatória, com o aumento da informalidade e o descaminho no mercado interno. “Em cada esquina tem alguém vendendo óculos de sol importado de forma ilegal. Como fica a indústria nacional?”, questiona Dini. “Nesse ritmo, a indústria óptica brasileira está condenada a desaparecer”, afirma o empresário.

Dini começou a trabalhar na fábrica do pai quando tinha apenas 17 anos. Naquela época, lembra o empresário, o negócio era algo que valia a pena. Os custos eram mais baixos e não tinha essa concorrência desleal que existe hoje. Há 12 anos, o filho de Dini assumiu o comando da empresa e a árdua missão de superar a crise atual da indústria brasileira. A fábrica atua no mercado ao lado de grifes famosas como Swissline, Topstar, Oz e Zen.

Preocupação extra

Na indústria de compressores Bitzer, a preocupação é maior. O problema de falta de competitividade extrapola os muros da fábrica. O cliente da empresa também precisa estar bem para não dar espaço ao produto importado. “Se uma máquina de sorvete é comprada no exterior, o compressor também será, pois vem junto com o produto pronto”, diz o presidente da empresa Fernando Bueno. Isso significa que seu cliente deixou de vender e ele também.

A Bitzer existe desde 1930 na Alemanha e chegou ao Brasil em 1950. “A empresa daqui chegou a ser maior que a da Alemanha, exportava para o mundo todo e participava do milagre (econômico) brasileiro.” Entre as décadas de 80 e 90, começou um processo de esvaziamento da indústria nacional. Mas no início dos anos 2000, com o real desvalorizado, o cenário foi revertido. “Nessa época, chegamos a exportar 35% da produção. Só não vendemos mais porque não tínhamos capacidade produtiva”, diz Bueno.

Com a forte demanda, a empresa investiu no aumento da produção e, em seguida, foi surpreendida pela valorização do real. Entre 2009 e 2010, a participação das exportações foi reduzida a 6%. “Só não foi a zero porque temos filial lá fora que é obrigada a comprar da gente. Hoje, o volume vendido para o exterior aumentou um pouco, para 13%”, afirma Bueno. “Com os investimentos feitos, ganhamos produtividade, mas o câmbio fora do lugar come boa parte da nossa competitividade”, reclama Bueno.

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