Depois do frango, que já foi referência de planos econômicos, agora é o ovo que pode começar a sumir da mesa do brasileiro. Produtores e atacadistas reivindicam aumento dos preços para cobrir os reajustes dos insumos. Segundo pesquisa do Departamento de Economia Rural (Deral), na segunda semana de fevereiro, o preço médio de venda no varejo paranaense foi de R$ 1,81 a dúzia de ovo grande. Isso representa uma queda de 4,7% em relação ao preço médio de venda em janeiro (R$ 1,90). Em um ano, a dúzia de ovos ficou 14,7% mais barata para o consumidor do Paraná. Mas no que depender dos avicultores e fornecedores, é melhor se preparar para preços maiores nos próximos meses.
“De outubro a dezembro, o consumo de ovos costuma crescer em função das festas. Mas em janeiro, a tendência é cair. Por causa das férias, muitas pessoas viajam e deixam de fazer a alimentação regular”, aponta o veterinário Roberto de Andrade e Silva, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral). No momento de baixo consumo, explica, “aumentam as promoções para desovar os estoques. Mas com o retorno das aulas, há um aquecimento de consumo”. Silva comenta que “ao contrário da avicultura de corte, na avicultura de postura a maioria dos produtores são granjeiros independentes, geralmente nas mãos de distribuidores de São Paulo e Rio de Janeiro, que ditam os preços”.
Pela caixa de 30 dúzias de ovos grandes, os produtores paranaenses receberam, em média, R$ 34,17 na semana passada – o que significa um aumento de 10,9% em relação ao valor médio de janeiro (R$ 30,80). Em fevereiro do ano passado, os distribuidores pagavam média de R$ 35,33. No atacado, os preços médios avançaram de R$ 33,95, em janeiro deste ano, para R$ 37,63, ou seja, alta de 10,8%.
Embora os preços pagos aos produtores estejam subindo gradativamente, como acontece sazonalmente nessa época do ano, está difícil de cobrir os gastos, que giram ao redor de R$ 33,00 para cada 30 dúzias. “Os insumos são quase todos importados (como minerais e vitaminas) e o milho e a soja têm preços internacionalizados”, destaca o técnico do Deral.
Mercado
Por causa do incremento nas exportações de carne de frango, que se intensificou no ano passado, a disponibilidade interna caiu, refletindo-se em elevação de preços. “Como é uma proteína de origem animal, o ovo não deixa de ser um substitutivo da carne de frango, mais barato, para setores que não têm acesso à carne”, observa Silva. No caso do ovo, diz ele, “um fator que tem impedido o crescimento dos preços é a queda da renda da população”. “Como o setor atacadista é quase um oligopólio, há a tentativa de repasse dos preços para o varejo, mas não adianta colocar no preço ideal se a população não consumir”.
Na avaliação do técnico do Deral, o produtor é a parte mais frágil da cadeia. “Apesar da recente majoração de preços, o elevado custo de produção não deixa margem para lucros”. As entidades que representam o setor alertam os avicultores para manterem uma produção enxuta. “Em 2001, houve uma grande crise na avicultura de postura, com descarte, mas hoje a produção está ajustada à demanda”.
Em 2003, o Brasil produziu 62,6 milhões de caixas de 30 dúzias, totalizando uma oferta de 22,5 bilhões de ovos. No País, o consumo per capita atingiu 127 ovos. O maior produtor de ovos é São Paulo, com 23 milhões de caixas, seguido de Minas Gerais (8,8 milhões), Paraná (4,8 milhões) e Rio Grande do Sul (4,4 milhões).