Custo do trabalho na indústria cresceu 4,3% em 2015, diz Firjan

Apesar dos sucessivos cortes de trabalhadores e reduções nos salários reais dos empregados, o custo por trabalhador na indústria continuou aumentando em 2015, de acordo com um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) obtido com exclusividade pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

O levantamento mostra que o custo unitário do trabalho (CUT) cresceu 4,3% no ano passado. Em dólar, no entanto, o CUT diminuiu em grau suficiente para restaurar a competitividade da indústria brasileira no mercado internacional, após a desvalorização do real em relação à moeda americana, dizem especialistas.

O aumento do custo do trabalho em reais apontado pela Firjan é fruto da intensa redução no número de horas trabalhadas na indústria em 2015 (-10,2%) a reboque dos cortes na produção, sem que a massa salarial tenha acompanhado esse movimento na mesma magnitude (o recuo foi de 6%). Como a produtividade – o quanto um indivíduo é capaz de produzir em determinado período – cresceu só 0,4%, o peso de arcar com esses trabalhadores ficou maior, explicou o economista Guilherme Mercês, gerente de Ambiente de Negócios e Infraestrutura do Sistema Firjan.

“As empresas estão pagando mais por um trabalhador que produz menos a cada hora de trabalho”, resumiu Mercês.

A principal consequência do aumento de custos é a menor capacidade para investir na modernização das fábricas e na contratação e qualificação de mão de obra – iniciativas que contribuem para aprimorar a produtividade. “Quando há um choque de custo, a margem de lucro cai e há consequente queda na capacidade de investimento. Nos últimos anos, isso se agravou”, afirma Mercês.

Em relação à competitividade com atores do mercado internacional, porém, a situação da indústria brasileira melhorou com a desvalorização do real ante o dólar. Só ano passado, a moeda americana avançou 48,9%, cumprindo o caminho desejado por empresários que reclamavam da enxurrada de importados no País e da dificuldade em vender seus produtos lá fora.

Com a ajuda do câmbio, o custo por trabalhador calculado em dólar vem caindo de forma sistemática desde o segundo semestre de 2014, ressaltou Rafael Bacciotti, analista da Tendências Consultoria Integrada.

“Na série do CUT em dólares calculada pelo Banco Central, a indústria apresenta perda de competitividade de forma clara e contínua desde 2003. O mercado de trabalho estava muito pressionado. Agora, já estamos recuperando o patamar de competitividade que tínhamos em janeiro de 2009”, ressaltou Bacciotti.

O analista afirma que o CUT em dólares é a melhor medida para avaliar a competitividade, porque mostra a atratividade dos produtos brasileiros não apenas no mercado externo mas também dentro do País, uma vez que ganha vantagem em relação aos importados.

“Nós vemos esse alívio na competitividade da indústria. Embora a demanda não esteja ajudando, se olharmos o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do ano passado, o setor externo foi o que impediu que a queda fosse mais forte”, disse Bacciotti.

Em 2015, as exportações de bens e serviços cresceram 6,1%, enquanto as importações tiveram queda de 14,3%, de acordo com os dados das Contas Nacionais divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A desvalorização do real, após longo período de dólar barato, deu à indústria nova capacidade de competir, tanto com importados quanto no mercado internacional. O dólar entre $$ 3,70 e R$ 3,80 restabelece as condições de competitividade da indústria”, observa o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.

Setores como o de celulose, altamente voltado para o mercado externo, já sentem o impacto positivo do câmbio. No entanto, o analista Rafael Bacciotti explica que a melhora na produtividade industrial também teve grande contribuição do enxugamento na folha de pagamento do setor. A folha de pagamento real da indústria encolheu 7,9% no ano de 2015, de acordo com a extinta Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), apurada até o fim do ano passado pelo IBGE.

A instabilidade política, contudo, é vista como um fator de incerteza para esse ajuste na competitividade da indústria brasileira. Segundo Lacerda, não há garantias de que o câmbio permanecerá nesse patamar, e o ambiente nebuloso que paira sobre a economia prejudica qualquer tentativa de antecipar os rumos da política econômica, seja no governo da presidente Dilma Rousseff (PT) ou de um eventual governo de Michel Temer (PMDB).

“Só não podemos cair na tentação de revalorizar o real. Por que não resistiram em usar o câmbio para combater a inflação? Porque é mecanismo fácil e traz resultados no curto prazo. Porém, no longo prazo, provoca desindustrialização, desemprego na indústria e desequilíbrio nas contas externas”, defendeu o professor da PUC-SP.

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