Caso o Brasil não consiga negociar uma redução do preço do gás natural comprado da Bolívia, além de desestimular o seu uso, pode levar muitas indústrias a trocar o gás por outros combustíveis mais baratos. O alerta é feito pelas empresas distribuidoras de gás das regiões Sul e Sudeste do País que consomem o gás da Bolívia. A Karsten, tradicional indústria têxtil de Santa Catarina, desde fins do ano passado trocou o gás natural por lenha. Seu diretor Industrial, Alvin Rauh, disse que a empresa foi obrigada porque o gás custava 50% mais caro do que a lenha.
Rio
(AG) – O presidente da Comgás, distribuidora paulista, e vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Oscar Prieto, destaca que além da necessidade de uma redução nos preços do gás boliviano, é fundamental o País estabelecer uma política para o óleo combustível, seu principal concorrente. Como hoje não existe essa política, cada vez mais fica difícil para o gás competir com o óleo combustível.As diretrizes gerais da renegociação entre o Brasil e a Bolívia serão um dos temas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratará amanhã no encontro com o presidente da Bolívia, Gonzalo Sanchez Lozada. O assunto é tão polêmico que o presidente Lula foi obrigado a participar da discussão. Isto porque a renegociação do contrato de venda do gás da Bolívia para o Brasil estava enfrentando uma certa resistência por parte da Bolívia. Afinal, a Petrobras estava reivindicando uma redução nos preços e no volume de fornecimento do gás, que representa uma receita da ordem de US$ 150 milhões para a Bolívia.
Com a intervenção nas negociações do governo federal já se conseguiu um passo importante: todas as partes envolvidas – como governos dos dois países, Petrobras, produtores de gás na Bolívia, transportadores e distribuidoras – aceitaram iniciar as discussões para revisão do contrato de gás. Atualmente, pelo contrato a Petrobras paga pelo fornecimento de 17 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural, mas está consumindo apenas 11 milhões. É que o contrato tem uma cláusula (take or pay) que prevê o pagamento de um determinado volume, mesmo que não seja consumido.
Hoje o gás da Bolívia custa US$ 3,20 por milhão de BTUs (medida do gás). Os empresários reivindicam um preço torno de US$ 2,60. O presidente da Comgás, a maior consumidora do gás da Bolívia, explica que se o gás se tornar competitivo existe um potencial de consumo da ordem de 10 milhões a 12 milhões de metros cúbicos por dia, dos quais 7 milhões de metros cúbicos só em São Paulo, e o restante nos demais estados do Sul do país.
Tanto Oscar Prieto quanto os presidentes das distribuidoras de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul afirmam que, apesar do significativo potencial de consumo, ao mesmo tempo, muitas indústrias que pretendiam usar o gás natural, estão desistindo. Segundo os empresários, o preço do gás boliviano dificulta ainda mais o desenvolvimento das usinas termelétricas que já enfrentam outras dificuldades, como a atual sobra de energia, para se viabilizarem. “É preciso negociar. Todos devem ceder um pouco para viabilizar o gás natural que tem um grande mercado em potencial”, disse Prieto.
