Os preços dos alimentos foram os
grandes “vilões” da inflação em 2002.

A inflação para as famílias curitibanas que recebem entre um e quarenta salários mínimos em 2002 foi de 12,02% – contra 5,9% em 2001, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) pesquisado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). A variação do custo de vida no ano passado foi a maior desde 99, ano de início da pesquisa. Em dezembro, a inflação na capital paranaense foi de 1,53%, o que representou um recuo de 1,42 ponto percentual em relação à taxa de novembro (2,95%).

Os sete grupos de produtos e serviços incluídos na pesquisa registraram elevação de preços no acumulado de 2002. As maiores contribuições para a inflação de 12,02% foram os grupos Alimentos e Bebidas (19,97%) e Transporte e Comunicação (10,91%), que pesaram, respectivamente, 3,81 e 2,65 pontos percentuais no índice anual. Nos demais grupos, as variações foram as seguintes: Despesas Pessoais (8,42%), Habitação (9,60%), Saúde e Cuidados Pessoais (11,34%), Artigos de Residência (11,92%) e Vestuário (11,22%).

Pelo segundo ano consecutivo, a tarifa de ônibus urbano foi o índice que mais pesou na inflação. O reajuste de 20% ocorrido ao longo de 2002 contribuiu sozinho com 0,44 ponto percentual da taxa anual. Na seqüência, os itens que mais pressionaram o IPC foram: pão francês, com variação de 40,24%, leite pasteurizado (29,77%), energia elétrica residencial (16,16%) e álcool combustível (34,55%). As quedas com maior impacto no índice foram verificadas em agasalho infantil (-40,88%), agasalho masculino (-15,75%), tomate (-17,57%), vestido para adulto (-11,98%) e feijão preto (-7,74%).

Em dezembro, todos os grupos tiveram alta. Alimentos e Bebidas subiu 2,56%, respondendo por quase um terço da taxa mensal. Essa elevação – a quinta consecutiva – foi puxada pelas refeições fora de casa, que aumentaram 2,69%. “Os donos de bares e restaurantes não conseguiram mais segurar os aumentos de massas, carnes e outros ingredientes e fizeram o repasse”, observa o técnico do Ipardes Carlos Renato Sofka.

O segundo grupo que mais influenciou o IPC foi Despesas Pessoais, com alta de 1,57%, pressionada pelo reajuste de 9,29% nos preços de cigarros. A alta de 5,62% nos medicamentos colaborou para o aumento de 2,32% em Saúde e Cuidados Pessoais. Também ajudaram a elevar o índice em dezembro: Artigos de Residência (2,61%), Vestuário (1,77%), Habitação (0,74%) e Transporte e Comunicação (0,47%).

Mais aumentos

Em janeiro, a inflação deverá ficar em 1,2%, superando os 0,88% de janeiro/2002, estima o economista do Ipardes Gino Schlesinger. Só os reajustes já anunciados contribuem com alta de 0,54 ponto percentual no IPC: gasolina (0,19), mensalidades de ensino médio e fundamental (0,13), tarifa de água e esgoto (0,11), cursos universitários (0,07) e IPTU e IPVA (0,03). Além desses aumentos considerados certos, Schlesinger destaca que a variação de Alimentos e Bebidas novamente deverá ser positiva. “Material escolar e uniforme também podem influenciar o índice, já que tradicionalmente há variação de preços nessa época em função do aumento do consumo”, acrescenta Sofka.

Os técnicos do Ipardes consideram difícil uma projeção da inflação para o ano, ressaltando que as previsões do mercado são baseadas em análises macroeconômicas e normalmente “furam”. “Se o real continuar valorizado, pode provocar uma redução de preços no mês de fevereiro”, destaca Sofka. “Se o trigo importado ficar mais barato, pode baixar o preço do pãozinho. A mesma coisa deve acontecer com o combustível, que é sempre amarrado ao dólar”, cita.

Ipardes vai elaborar políticas

Olavo Pesch

O Ipardes deixará de ser um órgão meramente técnico na gestão do governador Roberto Requião, passando a atuar em conjunto com a Secretaria de Planejamento (Seplan) na definição de políticas de desenvolvimento para o Estado. A nova diretora-presidente do Instituto, economista Liana Carleial, disse ontem que as pesquisas com metodologias consolidadas (emprego e custo de vida) não terão modificações. “Mas as pesquisas sócio-econômicas e ambientais provavelmente sofrerão alterações em função da importância que o planejamento terá nesse governo, não só no nível federal como no estadual”, destacou.

“Nesse governo, o papel do Ipardes será assessorar a Seplan na construção do plano de governo do Requião. Vamos ampliar o espaço junto ao governo do Estado, subsidiando as políticas econômicas”, afirmou Liana. “A intenção é ampliar as perspectivas de desenvolvimento econômico e criação de empregos no Paraná”, reforçou. A nova diretora-presidente do Ipardes é cearense, mas está há doze anos no Paraná. Ex-professora do curso de Economia da UFPR, hoje Liana leciona como professora visitante do curso de Direito da instituição.

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