O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que acelerou de 0,41% em maio para 0,67% em junho, sofreu influência importante da alta de 1,87% registrada no Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), após 0,45% no quinto mês do ano, avaliou o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). “O IGP-M veio dentro do esperado. Já imaginávamos que o INCC teria papel fundamental. De forma inédita, ocupou espaço importante, por causa dos dissídios da construção”, avaliou, ao referir-se a aumentos de salários feitos recentemente em locais como São Paulo e Rio de Janeiro, mas que demoraram para acontecer e acabaram refletindo só agora sobre o IGP-M.

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O economista, porém, ressaltou que a desaceleração do ritmo de queda nos preços da soja (de -4,07% para -0,44%) e mudança de sinal dos alimentos in natura, de recuo de 2,62% para elevação de 1,80% em junho, também pressionaram o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) Agropecuário, que saiu de -1,51% para -0,23% este mês, e, consequentemente influenciou o IGP-M do período. “Há uma lista ampliada de in natura que prejudicou e que não engloba somente itens verdes. Chamou a atenção o comportamento dos preços de ovos, que tinham recuado 11,04% em maio e agora subiram 4,58%, passado o período de maior oferta na Quaresma. Isso acaba batendo no consumidor, certo ou tarde. Deve arrochar ainda mais o custo de vida das pessoas, estimou.

O economista ainda citou as variações positivas de 22,95% do mamão (ante -22,92%) e de 20,72% da batata (ante +10,76%) em junho ante maio. Segundo ele, no geral, as altas refletem aumento de custos com água, energia, mão de obra e redução de área. Além disso, completou, o movimento deve impactar os preços no varejo, já que não são produtos bastantes demandados pelos consumidores. “Preocupa, pois parece que essas altas não serão dissipadas em 2015. Daqui a pouco, o inverno acaba e a temperatura tende a subir, dificultando ainda mais os custos dos produtores. A janela para devolução está ficando cada vez mais curta”, explicou.

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De acordo com Braz, a alta dos alimentos in natura foi responsável por 0,13 ponto porcentual do resultado de 0,60% da categoria de Bens Finais. “Se não fossem os in natura, esses bens teriam 0,47% e não 0,60%, só influenciados pelos alimentos processados”, disse.

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Segundo o economista do Ibre/FGV, enquanto os alimentos in natura estão tendo comportamento considerados atípicos para o período, quando se espera taxas mais brandas, os grãos como a soja estão reagindo a perspectivas menores para a safra no Brasil e também no exterior. “A queda da soja vem de um certo pessimismo de que a colheita não será tão boa quanto o esperado. Como soja pesa bastante, acaba influenciando o IPA”, afirmou.

Além da soja, outras matérias-primas como as aves (de -3,60% para alta de 0,98%) ajudaram o IPA (de 0,30% para 0,41%) a acelerar de maio para junho. Ele citou especialmente a pressão em relação aos preços do frango, que têm alta acumulada de 2,98% em 12 meses finalizado em junho. “Em termos reais, ainda não avançou o suficiente. Isso torna o produto alvo de maior preferência do consumidor, já que a carne bovina subiu 17% em 12 meses”, disse.

O motivo para o avanço nos preços das aves, ressaltou Braz, são o aumento das exportações, elevação de custos com energia e ainda tem o efeito da substituição pela carne bovina, cujo preço segue elevado e deve continuar devido à sazonalidade desfavorável.