Curitiba registrou a menor inflação acumulada no ano de 2005 de todo o País, segundo levantamento apresentado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A capital paranaense registrou, em dezembro, percentual de 0,33% no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o que elevou o acumulado para 4,79% contra a média nacional de 5,69%. O maior percentual acumulado foi de Recife, com 7,10%. O índice nacional ficou acima da meta de inflação ajustada, de 5,1%, mas ainda dentro da margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais.
O resultado representou também um recuo em relação à inflação acumulada em 2004, de 7,60%. Desde que o sistema de metas de inflação passou a ser adotado em 1999, o Banco Central só conseguiu cumprir o centro da meta em 2000. Em sete anos, esta é a sexta vez que o País ultrapassa o centro da meta, mas é também o segundo ano seguido que a inflação oficial fica dentro da margem de tolerância.
Até a metade do ano passado, economistas ainda apostavam no cumprimento do centro da meta. Segundo a economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, o desvio ficou por conta do ajuste de preços de combustíveis no segundo semestre. ?O contexto internacional levou o preço do barril de petróleo a níveis históricos e tornou inevitável o repasse de custos para a economia nacional?, afirmou.
O IBGE aponta fatores como a boa oferta de produtos agrícolas – apesar da queda de 5,5% na safra de 2005 – e a influência da queda do dólar como responsáveis pelo recuo da inflação em relação a 2004. A valorização do real permitiu uma certa estabilidade de preços em produtos como os de higiene pessoal e contribuiu para a redução nos preços de aparelhos de TV, de som e de informática (-8,49%).
Os alimentos exerceram um papel importante no sentido de conter a inflação. O dólar contribuiu para a alta mais moderada de preços de alimentos e bebidas, que acumularam variação de 1,99% no ano passado. Esta é a menor variação do grupo desde 1998, quando havia acumulado taxa de 1,95%. ?Não fosse a taxa de câmbio baixa, a quebra de safra teria tido um efeito perverso?, afirmou a gerente do Sistema de Índices de Preços, Eulina Nunes dos Santos.
O resultado da inflação de 2005 foi o menor desde 1998, quando o índice havia apurado alta de 1,65%. Segundo Santos, os resultados mostram a correlação da inflação brasileira com o comportamento do dólar. Após o choque cambial de 2002, as taxas deram sinais de desaceleração nos anos seguintes com o menor efeito do dólar.
O grupo que apresentou maior variação em 2005 foi transporte, com alta de 8,07%. O principal impacto individual no IPCA, de 0,52 ponto percentual, ficou com as passagens de ônibus urbanos, que subiram 10,44%. Outros produtos que pressionaram a inflação foram gasolina (7,76%), salários de empregados domésticos (11,52%) e tarifas de serviços públicos, como energia elétrica (8,03%) e telefone fixo (6,68%).
No ano, a maior taxa acumulada foi registrada na região metropolitana de Recife, com 7,10%, e a taxa mais baixa, em Curitiba (4,79%). São Paulo registrou uma inflação acumulada de 5,38% e o Rio de Janeiro, de 5,34%.
O índice se refere a famílias com rendimento entre um e 40 salários mínimos e abrange Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba, Brasília e Goiânia.
Dezembro
Em dezembro, o indicador apurou alta de 0,36%, com a menor pressão de transportes (de 0,66% para 0,24%) e dos alimentos (de 0,88% para 0,27%). Em novembro, o IPCA havia registrado alta de 0,55%.
Na avaliação da economista- chefe da Mellon Global Investments, Solange Srour, o resultado veio em linha com as expectativas, mas com núcleo pior do que o esperado. ?O que pressionou para cima o núcleo foi a parte de vestuário e artigos de residência. Um ponto positivo do IPCA foi a queda significativa dos bens não comercializáveis, que são formados basicamente pelos serviços e não são afetados tão fortemente pelo câmbio?, disse.
Segundo a Austin Ratings, a desaceleração já era esperada em razão do fim do efeito de aumento dos combustíveis.
Gasolina, passagens aéreas e ônibus urbanos foram os principais itens que fizeram baixar a taxa do grupo transportes. A gasolina (-0,18%) chegou a apresentar pequena queda, após os aumentos de setembro (3,36%) e outubro (4,17%) como efeito de reajuste, além da variação residual de 0,83% de novembro.
O álcool, no entanto, ficou 4,53% mais caro para o consumidor com o repasse dos reajustes praticados pelas distribuidoras.
INPC fechou o ano em alta de 5,05%
A variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em dezembro foi de 0,40%, abaixo da registrada em novembro (0,54%). A desaceleração da taxa de um mês para o outro é atribuída, principalmente, à redução na taxa do grupo Transporte, que passou de 0,74% para 0,36%. Mesmo assim, o grupo dos produtos não alimentícios situou-se em 0,42%, próximo de novembro (0,43%). Quanto aos produtos alimentícios, caíram de 0,81% para 0,35% e também contribuíram para a desaceleração do índice.
O INPC fechou o ano de 2005 com taxa de 5,05%. Os alimentos ficaram com 1,43%, enquanto os não alimentícios aumentaram 6,59%. Em 2004 o resultado do ano foi 6,13%, com alta de 2,92% nos alimentícios e 7,56% nos não alimentícios. Os resultados por grupo foram:
Calculado pelo IBGE desde 1979, O INPC refere-se às famílias com rendimento monetário de 01 a 08 salários mínimos, sendo o chefe assalariado, e abrange nove regiões metropolitanas do país, além do município de Goiânia e de Brasília.
Administrados respondem por 47% da inflação
Os preços administrados aumentaram sua participação na inflação em 2005. Eles foram responsáveis por 47% da taxa acumulada no ano, de 5,69%. Em 2004, os administrados haviam respondido por 39% da inflação do ano, de 7,60%. Os resultados mostram que a inflação do ano passado ficou mais concentrada nos administrados. Mesmo com reajustes menores, eles representaram uma parcela maior da composição da inflação.
Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os administrados representaram 2,65 pontos percentuais da taxa do ano. A principal contribuição veio da passagem de ônibus urbano, com alta de 10,44%.
De acordo com a gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, existe um fator sazonal no reajuste de ônibus. As prefeituras evitam aumentar o preço da passagem em anos de eleições municipais. Em 2004, a passagem subiu 4,74%, com isso, os reajustes de 2005 compensaram a contenção dos preços no ano anterior.
Outros itens administrados que pressionaram a inflação no ano foram: tarifa de energia elétrica residencial (8,03%), gasolina (7,76%), com os efeitos do reajuste de 10% autorizado pela Petrobras em setembro, plano de saúde (12,02%), tarifa de telefone fixo (6,68%) e taxa de água e esgoto (13,38%).