O economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, adiantou nesta terça-feira, 6, que Curitiba está bem a frente de outras cidades do seu porte, incluindo as capitais, e preparada para erradicar a miséria e a pobreza. “Curitiba reduziu a pobreza em mais de 60% no período de seis anos. A cidade fez mais de 25 anos em cinco”, disse  Neri em referência ao cumprimento, em curto prazo, da primeira meta do milênio da ONU que prega a redução da pobreza à metade no período de 1990 a 2015.

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Neri é chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV e apresenta em Curitiba a série de diagnósticos sobre os indicadores sociais da capital do Paraná na última década. Os números  apontam, segundo Neri, que de 2003 a 2009 a cidade tirou da miséria 107 mil pessoas. Isso representou 65,33% na redução da pobreza em Curitiba contra (45,5% no Brasil) no mesmo período.

Com base nos índices alcançados por Curitiba, o prefeito Luciano Ducci disse que a cidade cumprirá o desafio de reduzir ainda mais a desigualdade social e que tem na educação um dos principais alicerces das mudanças almejadas. “Ficamos estimulados com metas desafiadoras e vamos continuar avançando com propostas inovadoras. Queremos colocar Curitiba num patamar ainda melhor. Para isso temos o desafio de reduzir nos próximos cinco anos o índice de pobreza pela metade em nossa cidade, tendo como prioridade a educação”, disse Ducci.

A presidente da Fundação de Ação Social (FAS), Marry Ducci, considera que os bons resultados alcançados no trabalho de emancipação da população em situação de pobreza se devem à integração de ações pela efetividade da rede social. “A gestão intersetorial focada nas políticas públicas é determinante para a erradicação da pobreza. Os resultados deste processo são maiores com o envolvimento de todos os órgãos da Prefeitura e também da indispensável participação de parceiros da sociedade organizada no trabalho pela inclusão de quem mais precisa”, disse Marry.

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Erradicação

A taxa de pobreza em Curitiba é de 3,64% (67,3  mil pessoas) e segue em queda. O índice é mais que quatro vezes inferior à taxa nacional de pobreza (15,32%). São consideradas em situação de pobreza as famílias com renda de até R$ 151 por pessoa.

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Para aliviar totalmente a pobreza em Curitiba seriam necessários R$ 2,96 em média, por pessoa/mês (contra R$ 5,38 em 2003). “É comum em lugares ricos você ter bolsões de miséria, com pessoas dissociadas de qualquer relação produtiva. O custo para a erradicação da miséria, enquanto suficiência de renda, em Curitiba é perto de R$ 3 por curitibano, um valor que chegou a quase R$ 6, em 2003”, observou Neri. A média necessária, em nível nacional, alcança o valor de R$ 10 habitante/mês.

Neri considera que o resultado de Curitiba se dá pela combinação de crescimento com redução da desigualdade. “A cidade está na metade do caminho a um custo relativamente barato. Curitiba está fazendo o dever de casa, conseguiu reduzir bem a miséria, acima do índice nacional. Vocês têm aqui ações na área da educação, saúde e assistência social bastante estruturada.”

Queda

O indicador que permite mensurar a diferença de renda entre mais ricos e mais pobres é o Índice de Gini. O diagnóstico da FGV mostra que, de 2003 a 2009, houve queda substantiva na desigualdade em Curitiba. Foi a maior na história brasileira desde 1960. O acumulado nesse período foi de 10,7% na capital paranaense, em tempo igual ao que a queda do Gini no Brasil foi de 4,45%.

No comparativo de Curitiba, com as equivalentes Porto Alegre e Belo Horizonte, é possível ver que nossa cidade realmente avançou. Em 2004, as três capitais tinham índices de desigualdade parecidos: 0,507 Curitiba e 0,5763 para Porto Alegre e Belo Horizonte. As capitais mineira e gaúcha apresentaram queda de 4,17% até 2009 contra 11,8% de Curitiba no mesmo período.

Curitiba também supera Belo Horizonte e Porto Alegre na função bem-estar social. Tal função é uma equação proposta por Amartya Sen, economista indiano, Prêmio Nobel de Economia de 1998. É uma equação na qual se multiplica a renda média pela medida de equidade dada pelo número 1 menos o índice de Gini  = Média x (1-Gini).

Política social

Marcelo Neri considera que Curitiba tem muito capital social e uma sociedade organizada e educada, o que ajuda muito no processo de emancipação da parcela mais carente da população.  “Os dados falam por si. Curitiba é uma das sete cidades que está discutindo a mudança da política social brasileira para o cadastro único. Vocês têm uma máquina azeitada e estruturada. É um trabalho excepcional e é possível aplicar esta capacidade de gestão no cumprimento de metas mais ambiciosas”, disse.

O economista diz que o caminho agora é erradicar a pobreza e olhar para a nova classe média, focar em novos grupos fortes e emergentes que devem ser foco de ações diferenciadas do poder público.

“Aprendi em Curitiba a importância de não se olhar só para os pobres, mas também observar grupos um pouco mais acima. As ações que podem ser pensadas para o futuro estão ligadas ao que chamo de federalismo social, que prevê um upgrade no trabalho de assistência social com o envolvimento maior da comunidade a partir de estímulos, como a premiação por nota nas escolas e a cobrança da maior presença dos pais na escola. Dá para fazer muito com pouco recurso se você foca na parcela mais carente. Dada a qualidade das ações da FAS, que tem o mapeamento de classes por regiões é possível avançar com ações integradas ao estado e ao governo federal”, completou Neri.

O prefeito Luciano Ducci disse que o trabalho da Fundação Getúlio Vargas mostra que as políticas públicas de assistência social na cidade estão no caminho correto. “Temos ao longo dos últimos anos várias ações importantes realizadas pela Fundação de Ação Social, também na área da educação, com o melhor Ideb do País e na habitação retirando pessoas de áreas de risco, entre outras. São ações que estão representadas nos números do diagnóstico social de Curitiba. Dados importantes que nos desafiam a avançar ainda mais”.

A apresentação do economista Marcelo Neri, feita na manhã desta terça, no Salão Brasil da Prefeitura, foi acompanhada por lideranças empresariais, políticas, autoridades municipais e pela imprensa de Curitiba. Os dados da FGV estão disponíveis no seguinte endereço: http://www.fgv.br/cps/vulnerabilidade/