A recessão na economia brasileira causada pela crise global, registrada do quarto trimestre de 2008 ao primeiro trimestre deste ano, foi a mais intensa para um período trimestral nos últimos 28 anos.
A análise é do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com levantamento do comitê, divulgado hoje, a economia brasileira encolheu em média 1,9% por trimestre, durante o período de recessão que se encerrou este ano.
Este recuo foi mais do que o dobro da redução média trimestral registrada durante a mais longa recessão brasileira, que durou 11 trimestres – do terceiro trimestre de 1989 ao primeiro trimestre de 1992 -, e cujo encolhimento médio por trimestre na economia foi de 0,7%.
“Essa recessão foi, sem dúvida, mais curta, durou apenas dois trimestres. Mas com certeza foi mais forte do que a do período Collor (ex-presidente Fernando Collor de Mello, que exerceu a presidência de 1990 a 1992)”, disse o economista e integrante do comitê, Regis Bonelli.
No levantamento, o comitê fez uma cronologia trimestral dos ciclos de negócios brasileiros desde o primeiro trimestre de 1981 até o primeiro trimestre de 2009. Neste período, foram identificados oito períodos recessivos e sete períodos de expansão econômica.
Nas sete recessões anteriores à mais recente, finalizada este ano, a redução trimestral média do PIB brasileiro foi de 0,8% – bem menos intensa do que a recessão encerrada este ano.
A FGV também identificou o período de crescimento econômico mais longo, que foi de 21 trimestres – do terceiro trimestre de 2003 ao terceiro trimestre de 2008. O bom momento da economia brasileira foi interrompido pela chegada do período mais agudo da crise global, iniciado em setembro do ano passado.
“Foi um período de muita incerteza, de muito medo. A gota d’água foi a falência do (banco norte-americano) Lehman Brothers (em setembro de 2008)”, comentou Bonelli.
Para o especialista, a grande magnitude da recessão brasileira foi causada basicamente pelo alcance global da crise, semelhante ao período da Grande Depressão, na Década de 30 do século passado. “Mas a recessão, na prática, foi eminentemente uma recessão industrial. A indústria foi o setor mais afetado” comentou Bonelli.
Ele disse que o Produto Interno Bruto (PIB) industrial caiu 12,2% nos dois trimestres de recessão, o que equivale a uma queda média de 6,3% no PIB industrial por trimestre, no período.
“Foi uma queda bem mais intensa do que a do setor de serviços, por exemplo, cujo PIB caiu 0,6% em média, nos dois trimestres de recessão”, comentou. “Mas para o lado da demanda, os investimentos foram muito afetados no Brasil durante a recessão”, afirmou.
Agora, a grande questão para Bonelli é quando a economia brasileira voltará a registrar “picos” de expansão. O último ponto de “auge” no crescimento econômico, de acordo com o comitê, foi registrado no terceiro trimestre do ano passado.
“Essa é a pergunta de um milhão de dólares”, disse, comentando que a economia brasileira apresentou, nos segundo e terceiro trimestres deste ano, crescimento médio de 1,2% por trimestre, uma taxa que, anualizada, seria de 5% ao ano. “Torcemos para que a economia continue a crescer e volte a mostrar picos de expansão mais à frente”, afirmou.
Em seu levantamento, o Codace apurou ainda que o mercado de trabalho voltou a se recuperar no primeiro semestre de 2009 e que os investimentos produtivos privados voltaram a crescer, com forte aceleração no terceiro trimestre deste ano.