Brasília ( AG) – A crise política ainda não teve impacto na estratégia do governo de administrar a dívida pública. A informação é do coordenador-geral da dívida do Tesouro Nacional, Paulo Valle, para quem a demanda por títulos neste mês está normal. Ele apresentou os resultados de maio da Dívida Pública, ontem, junto com Ivan Luiz, do Departamento de Operações do Mercado Aberto do Banco Central.
Logo que as denúncias envolvendo parlamentares da base aliada e membros do governo e do PT surgiram, o Tesouro decidiu ser ?um pouco mais conservador? e ofertou R$ 1,5 bilhão em títulos públicos. No entanto, a demanda foi forte e permaneceu elevada nas semanas seguintes. Segundo Paulo Valle, a taxa de rolagem da dívida está neste ano em 111% (ou seja, o governo consegue alongar a dívida que está para vencer e ainda emite novos títulos). No ano passado, a taxa média de rolagem foi de 86% e em 2003, 101%.
?A gente pode afirmar que os leilões estão dentro da normalidade?, disse.
O estoque da dívida mobiliária federal interna (em títulos públicos) fechou o mês de maio em R$ 887,93 bilhões. Isso representa um aumento de 1,6% em relação a abril, ou R$ 14,1 bilhões. Esse crescimento foi decorrente da emissão líquida de títulos no valor de R$ 3,8 bilhões e devido à incidência de juros.
A parcela da dívida composta por papéis prefixados subiu de 20,3% em abril para 22,1% em maio devido a uma emissão líquida desses papéis no valor de R$ 16,2 bilhões. Por outro lado, a parcela da dívida corrigida pela taxa Selic reduziu-se de 59,2% em abril para 57,8% em maio. Nesse caso, a queda foi resultado de um resgate líquido de R$ 11,3 bilhões no período. A parcela da dívida remunerada por índices de preços, por sua vez, caiu de 14,1% em abril para 13,9% em maio.
A dívida cambial continua registrando queda. Entre abril e maio, a parcela indexada ao câmbio passou de 4,6% para 4,3%. Isso foi decorrência de um resgate líquido de R$ 400 milhões em títulos e de uma apreciação cambial de 5,04% no mês. Do total da dívida pública, 43,8% vencem em até 12 meses, ou seja, é débito de curto prazo. O percentual é maior do que a parcela registrada em abril (42,8%).
Tesouro faz captação de mais US$ 600 milhões
O governo brasileiro captou ontem US$ 600 milhões com a reabertura de uma emissão externa de bônus que vencem em 2015 (Global 2015), concluindo o seu plano para o ano, que era de captar US$ 6 bilhões. Apesar das turbulências políticas no cenário doméstico, o Brasil conseguiu pagar mais barato na captação realizada ontem do que em operação com o Global 2015 realizada em fevereiro.
Os investidores que adquiriram papéis brasileiros na emissão realizada hoje terão uma taxa de retorno de 7,732% ao ano. Na emissão original do Global 2015, ocorrida em fevereiro, a captação foi de US$ 1 bilhão, com retorno de 7,9% aos investidores.
Esses recursos ajudam o governo a se precaver de um possível contágio na economia da crise política que surgiu desde que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou que o PT pagaria mesadas a deputados da base aliada em troca de apoio a projetos.
Os recursos conseguidos por essas captações são usados para honrar os compromissos da dívida externa. Ao encerrar o plano deste ano, o governo pode aproveitar para antecipar o cronograma do ano que vem – estimado também em cerca de US$ 6 bilhões.
Por outro lado, quanto mais o governo emite títulos, mais cresce sua dívida externa. No entanto, ao trazer dólares do exterior para pagar sua dívida, o governo também protege as reservas internacionais do Banco Central, que servem como garantia aos investidores de que o país pagará sua dívida em momentos de turbulência econômica internacional.
A captação de ontem foi liderada pelos bancos Citigroup e HSBC. O dinheiro deve entrar nas reservas brasileiras no dia 27 de junho.