São Paulo
(AE e agências) – A crise no mercado financeiro pode favorecer a candidatura do senador José Serra (PSDB-SP) a presidente. Essa é a opinião dos cientistas políticos Fábio Wanderley Reis, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Marco Antônio Carvalho Teixeira, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. Até mesmo o candidato a presidente pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, admite esta possibilidade.Para Reis, o estado de dúvidas reforça a “retórica terrorista e intimidatória” do governo de que a vitória de um candidato de esquerda pode comprometer ainda mais a situação econômico-financeira do País. Apesar disso, ele destaca que se a crise se acirrar por mais tempo, Serra também poderá ser afetado pois ficará caracterizado que o governo não tem controle da situação. Teixeira lamenta que a campanha eleitoral se baseie mais em críticas e denúncias do que em propostas. “O quadro é similar ao que ocorreu nas eleições de 1989, quando o cenário se polarizou entre Collor, taxado de candidato da estabilidade, e Lula, taxado de candidato da desestabilização. A diferença é que, agora, a polarização se dá entre o candidato do governo, José Serra, e Lula; porém, o embate é o mesmo.”
Ele acredita que a campanha no segundo semestre deverá estar polarizada entre o pré-candidato do PSDB a presidente e o candidato do PT. “Acho difícil o quadro para Ciro Gomes (candidato do PPS) e Anthony Garotinho (ex-governador do Rio, do PSB), principalmente em função da fragilidade de seus partidos.” Em Belo Horizonte, Lula afirmou que a “única possibilidade de evitar que o partido ganhe as eleições é criar pânico na sociedade”. Lula fez uma analogia com o caso Riocentro, no qual um militar explodiu uma bomba no Centro de Convenções do Rio, durante um show artístico, no período anterior à abertura democrática. “O mercado tem de parar de brincar com a fabricação de bombas caseiras e começar a se convencer de que vamos ganhar construindo parcerias”, disse. De acordo com ele, uma eventual vitória da candidatura do partido significará um governo feito por várias legendas, buscando ousadia e novos mercados para os produtos brasileiros.
Em São Paulo, o economista-chefe do BBV Brasil, Octávio de Barros, disse que se o pré-candidato do PSDB, José Serra, vencer as eleições, o Brasil será classificado como “investment grade”, ou seja, um país recomendável para investimentos, em um prazo de três anos. Segundo ele, o candidato tucano representa a continuidade em relação ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e um comprometimento com a austeridade fiscal. Isso significa transparência e previsibilidade para o mercado, afirmou. “A vitória de um candidato da oposição pode adiar em dez anos a classificação do Brasil como investment grade”, disse Barros ontem, em palestra no seminário “Brazil Issuers? Forum 2002”. O economista frisou, no entanto, que está nas mãos da própria oposição virar o jogo, emitindo sinais claros ao mercado de qual o tratamento que será dado à dívida pública em caso de vitória. “Qualquer um poderia viabilizar (a classificação de risco do país como investment grade) nesse prazo (três anos)”, observou. “Dizer que respeita a responsabilidade fiscal é insuficiente e o mercado vai cobrar mais no ano que vem.” Barros afirmou que a oposição não pode subordinar a questão fiscal a metas de crescimento da economia ou de distribuição de renda. “É uma inversão de causalidade”, disse. O economista afirmou estar convencido de que a oposição tem instrumentos para fazer “um extraordinário governo”. Para isso, basta que tenha consciência de que é preciso andar dentro das restrições orçamentárias, sem comprometer as metas de superávit primário e de inflação.