Crise na aviação preocupa usuários de “milhagens”

Rio

  – A crise da Varig, atolada em dívidas de US$ 764 milhões, não está tirando o sono apenas dos credores. Os usuários do programa de milhagem Smiles, um dos atrativos da companhia para conquistar clientes freqüentes, estão preocupados com a situação da companhia. Muitos temem que, com as dificuldades financeiras da empresa, em uma eventual paralisação, sejam prejudicados e fiquem sem viajar. Até agosto deste ano, foram emitidos 292 mil bilhetes-prêmio, segundo dados do Smiles.

Cerca de um milhão dos quatro milhões de participantes do Smiles estão com milhas expirando em 31 de dezembro. Quem não puder viajar, pode revalidar até 20 mil milhas, mediante pagamento de uma taxa de R$ 178, até o dia 26.

De acordo com o analista Alexandre Torrano, se o cliente tiver um bilhete-prêmio emitido por uma das empresas do Grupo Star Alliance ? rede global de serviços aéreos, formada por 14 empresas em todo o mundo, da qual a Varig faz parte ? poderá viajar. O mesmo pode não acontecer se a passagem tiver sido emitida pela Varig.

? Na verdade não há obrigação da Star Alliance de hon-rar uma passagem emitida pela Varig. E, se o passageiro não tem bilhete mas tem milhas, será decisão das empresas receber ou não este passageiro. Tudo dependerá de acordos prévios ? diz Torrano.

Cláudia Ogata, técnica do Procon de São Paulo, entende que os consumidores com milhas acumuladas podem ficar no prejuízo. Ela adverte que o usuário de programas de milhagem tem direito de saber se a empresa aérea tem convênio com outras companhias e se há alguma cláusula que as isente de atendimento, em caso de paralisação da atividade.

O cliente do programa Smiles Bernardo Goldwasser está em dúvida se paga ou não a taxa de renovação de suas milhas.

? Tenho direito a retirar as passagens mas não estava pensando em viajar agora. Já estava preocupado com as notícias sobre as dificuldades da Varig. Temo que, se pagar e a empresa vir a fechar, perca, além das milhas, os R$ 178.

O gerente-geral do programa Smiles, Marco Aurélio Botelho, diz que, pelo menos informalmente, há um compromisso das empresas do grupo Star Alliance com os participantes.

? A expectativa é que as passagens sejam honradas. Afinal, o bilhete foi pré-pago pelo usuário ? diz Botelho.

No Smiles, o cliente tem restrições de datas e horários de vôos. Em alta temporada, precisa pagar milhas extras para voar. O sistema de milhagem, diz Alexandre Torrano, ainda é eficiente. Segundo ele, a preocupação das empresas é evitar excessos na emissão de bilhetes. Ele afirma que dificilmente um passageiro pagante sai para entrar um de milhagem.

Conselho é usar enquanto é tempo

“Só há um jeito de proteger o valor total de suas milhas: use-as agora, enquanto a companhia aérea ainda está voando.” O conselho é de Tim Winship, ex-funcionário da indústria de aviação comercial que, como criador e editor do boletim FrequentFlier Crier e do site “FrequentFlier.com”, recebeu dezenas de prêmios nos EUA e foi selecionado pelo grupo Dow Jones pela qualidade do serviço que presta na internet, bem como pela revista Business Week.

A preocupação dos passageiros que aderiram a programas de milhagem das companhias aéreas é a mesma em todo o mundo quando as empresas passam por dificuldades, caso da United Airlines, nos EUA, ou da Varig, no Brasil.

A lei que protege os passageiros americanos em casos de concordatas e falências das companhias aéreas é a mesma que protege o consumidor em geral e, em particular, está sujeita às normas do Departamento de Transporte do governo federal.

No fim dos anos 90, um deputado republicano apresentou projeto de lei para criação de normas específicas sobre os direitos dos passageiros de companhias aéreas, mas o projeto foi derrubado no ano retrasado, segundo Winship, devido ao bem-sucedido lobby das companhias. No ano passado, outros dois deputados apresentaram novo projeto de lei, hoje parado.

? Em essência, as companhias aéreas esvaziariam essas iniciativas se adotassem suas próprias cartas de direito dos passageiros ? disse Winship.

Sobre o programa Smiles, da Varig, que faz parte do grupo Star Alliance, Winship acredita que as milhas acumuladas não devem ser aproveitadas em outras companhias, caso a situação da Varig piore a ponto de a companhia não poder cumprir suas milhas (o que até agora não ocorreu).

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