Crise na agroindústria do Paraná causa prejuízos irreversíveis

Um pesadelo sem previsão de quando vai acabar. Em poucas palavras, assim pode ser resumida a crise pela qual passa parte da agroindústria do Paraná. Primeiro, foi a longa estiagem no início do ano passado, que provocou a quebra da safra de diversos produtos – entre eles, a soja -, somada à queda das commodities no mercado internacional. Endividados, os produtores rurais não renovaram os maquinários, e a indústria de equipamentos agrícolas – incluindo tratores, implementos e colheitadeiras – desacelerou. Era apenas o início da crise no campo.

Com o dólar baixo como "pano de fundo", setores que dependem quase exclusivamente do mercado externo sofreram os efeitos. Caso do setor madeireiro que, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, demitiu 4.720 pessoas entre fevereiro do ano passado e janeiro deste ano. "É a pior crise do setor, sem dúvida", sentenciou o presidente da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), Roberto Gava. Segundo ele, cerca de 80% das chapas de madeira, compensado e móveis produzidos no Paraná são exportados, principalmente para os Estados Unidos e países da Europa. "No ano passado, a luz verde já começou a piscar. Depois acendeu a amarela e agora a vermelha", lamentou.

De acordo com Gava, empresas paranaenses continuam exportando apenas para manter os compromissos comerciais. "Depois que sai do mercado (internacional) é muito difícil voltar. Países como o Chile e a Argentina estão sedentos para ‘abocanhar’ esta fatia", comentou. Quanto às demissões, elas vieram por conta da redução de custos. "O problema básico é que o dinheiro que sai para pagar os custos é o mesmo, mas o que entra é menor, por conta da desvalorização do dólar. Chega uma hora em que a empresa não tem mais dinheiro."

Outro problema que vem assolando o setor madeireiro é o chamado "apagão florestal", ou seja, a redução de estoque de florestas plantadas. "Empresas de médio e pequeno porte não encontram madeira disponível porque não mantiveram a base florestal, que diminuiu bastante e vai continuar diminuindo", explicou Gava. "Isso iria ocorrer independentemente do dólar." De acordo com o presidente da Apre, em 1998 havia 305 serralherias em Curitiba e Região Metropolitana. Hoje, somam apenas 80. "As pequenas e médias estão sofrendo pela falta de madeira e as grandes também pela madeira, mas principalmente pela oscilação do dólar."

Quanto à expectativa de reversão, Gava não se mostra otimista. "Infelizmente, o setor vai continuar demitindo. Só a questão cambial é capaz de reverter o processo", comentou. Como medida paliativa, Gava sugere que o governo do Estado abra linhas de crédito para que as empresas do setor consigam se manter vivas. "Estamos começando a alinhavar a questão. Seria um par de muletas para que as empresas consigam se movimentar."

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), repassados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, regional Paraná (Dieese-PR), em 2003 havia no Estado 1.272 unidades de fabricação de produtos de madeira, que empregavam cerca de 50 mil pessoas. O total de vendas do setor naquele ano foi de R$ 3,7 bilhões de reais.

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