A crise dos mercados internacionais levou à queda de 10% no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em outubro, a mais forte da série histórica do indicador, iniciada em setembro de 2005. A informação é do coordenador de Análises Conjunturais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloísio Campelo. Ele comentou que essa queda no mês pode ser considerada “o segundo abalo” na confiança do consumidor este ano. O primeiro foi em julho, quando o índice caiu 5,8%, pressionado pelo mau humor do consumidor devido à forte alta nos preços dos alimentos, naquela época.

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Entretanto, essa queda foi muito mais intensa do que a apurada em julho. Na análise do economista, o consumidor está percebendo que a turbulência no mercado financeiro pode atingir negativamente as finanças de sua família.

Ao detalhar o cenário de outubro para a confiança do consumidor, Campelo explicou ainda que o resultado negativo foi puxado pelas famílias de renda mais elevada, e residentes em São Paulo. Somente na faixa de rendimento familiar entre R$ 4.800 e R$ 9.600, a queda no ICC foi de 12,9% em outubro. Entre os mais ricos, as famílias com renda acima de R$ 9.600, o recuo no ICC foi mais intenso: 14,1% no mês. Essas duas quedas foram as mais expressivas da série histórica do índice. Apenas em São Paulo, o ICC caiu 12,6% em outubro, também a mais forte queda da série.

“A Bolsa de Valores não é algo tão popular assim. Em um primeiro momento, a turbulência mexeu mais com as pessoas de renda mais alta, com aplicações na Bolsa”, explicou o economista.

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Entretanto, ele admitiu que, de uma maneira geral, o consumidor está atento ao cenário atual, e muito mais cauteloso quanto ao futuro. Segundo ele, o Índice de Expectativas, um dos dois subindicadores componentes do ICC e que teve queda de 8,5% no mês, apresentou o pior nível da série histórica da pesquisa. Na análise de Campelo, esse resultado é bem atípico para um mês de outubro, quando os consumidores estão mais otimistas devido à chegada do décimo terceiro salário e, conseqüentemente, mais propensos a gastar.

Essa cautela é perceptível ainda nas projeções de compras de bens duráveis. Embora tenha subido, de setembro para outubro, a parcela de consumidores entrevistados que planejam comprar mais bens duráveis nos próximos meses, de 13,5% para 17,2%, o porcentual de outubro deste ano é inferior ao de outubro do ano passado (18,4%). Um cenário de oferta mais restrita de crédito para os próximos meses pode ter influenciado esse resultado. “Certamente, as previsões quanto às vendas de Natal, em relação às do Natal passado, tendem a se tornar mais modestas”, afirmou.

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Mas o coordenador observou que não há como saber, com toda a certeza, se essa trajetória negativa na confiança do consumidor é sustentável. Para ele, o resultado de apenas um mês não é suficiente para configurar uma tendência de pessimismo no consumo. “Se o mês de novembro também vier negativo (o ICC), aí poderemos começar a pensar em algo assim”, acrescentou.

Devido ao atual cenário, o consumidor também espera juros mais elevados. Em outubro, 65,7% dos entrevistados apostam em juros mais altos nos próximos meses, sendo esse o maior porcentual registrado para essa resposta nos últimos três anos.