A unidade operacional da Parmalat no Brasil entrou com pedido de concordata ontem, na 29.ª Vara Cível da Justiça de São Paulo, em meio à crise financeira na matriz italiana que teve desdobramentos na subsidiária brasileira, informou a assessoria de imprensa da companhia. Com a concordata, a Parmalat Brasil S.A Indústria de Alimentos tem dois anos para pagar suas dívidas. O objetivo da medida é permitir a reestruturação financeira da empresa e evitar sua falência.
A unidade brasileira, que emprega 6.000 pessoas e representa 50% dos negócios do grupo italiano na América Latina, vinha atrasando o pagamento a produtores de leite no país e a outros fornecedores. Chegou a interromper a produção em algumas unidades e enfrenta pelo menos cinco pedidos de falência.
Em nota distribuída ontem no final da tarde, a empresa diz que “os reflexos da crise internacional, na qual o grupo controlador italiano está envolvido, acabaram contaminando gravemente as operações da Parmalat Brasil S.A. – Indústria de Alimentos. O corte das linhas de crédito por instituições financeiras, algumas das quais muitas vezes inflexíveis, aliado à suspensão do fundo de securitização acabou resultando em ações judiciais que imobilizaram a empresa. A concordata preventiva deverá assegurar sua sobrevivência e a continuidade na implementação do programa de reestruturação já iniciado”.
Em outro tópico, diz a nota que “a decisão, embora difícil, tornou-se inevitável”, segundo Ricardo Gonçalves, presidente da Parmalat desde o final de 2001, contratado para reestruturar as operações da empresa no Brasil e buscar uma melhor performance das diversas empresas adquiridas pelo grupo italiano nos anos 90.
Segundo ele, as contas com fornecedores, produtores de leite e os débitos fiscais sempre foram pagos em dia. Da mesma forma, eram satisfatórias as relações com os credores financeiros da Parmalat Brasil S.A. – Indústria de Alimentos. “Mas, desde novembro de 2003, a situação internacional, que surpreendeu a mim e aos outros seis mil funcionários da empresa que presido, acabou inevitavelmente contaminando a empresa”, ressalta.
Problemas
Os problemas no Brasil começaram quando a controladora italiana revelou, em meados de dezembro, um buraco de bilhões de euros em seu balanço. Atualmente, a Parmalat – Indústria de Alimentos concentra sua operação nacional em oito unidades industriais e cinco centros de distribuição. É a única empresa a ter fábricas em todas as regiões do Brasil, liderando o mercado nacional de leite líquido.
A empresa também detém o controle de outra importante e tradicional empresa do setor de laticínios, a Batávia S.A, instalada em Carambeí, região de Ponta Grossa.
Governo está alheio ao problema
O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite, Rodrigo Alvim, criticou ontem a postura do governo brasileiro em relação à crise financeira da Parmalat. Segundo ele, apesar dos esforços do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o governo não deu a devida atenção aos produtores e cooperativas de leite afetados pela crise da empresa.
“O ministro Rodrigues não é responsável pela questão social, pela área econômica ou pela segurança alimentar. Eu não vi nenhuma manifestação do presidente da República ou da Casa Civil para tratar do problema”, disse Alvim.
Rodrigo Alvim se reuniu ontem com um grupo de parlamentares para discutir soluções para o problema. Após a reunião, ficou acertado que os parlamentares e o setor vão propor a criação de um comitê gestor da Parmalat, que seria composto por um advogado, um parlamentar, um gestor, produtores e funcionários com o objetivo de evitar que a empresa feche as portas no Brasil. Alvim disse que ainda não sabe que instrumento legal seria necessário para criar esse comitê, mas afirmou que a proposta já está em estudo.
Segundo ele, 20 mil produtores vendem seus produtos para a Parmalat. A empresa tem dívidas vencidas nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina e Goiás, totalizando R$ 13 milhões. A crise financeira ainda não havia chegado ao Paraná, onde os pagamentos aos produtores de leite estavam em dia.
Ontem, nenhum diretor da Batávia, a empresa pertencente à Parmalat em Carambeí (Ponta Grossa) foi encontrado para comentar o pedido de concordata.
Providências
O presidente da Comissão Especial da Parmalat, deputado Waldemir Moka (PMDB-MS), esteve ontem com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Ele foi reivindicar do Governo a garantia do pagamento das dívidas da empresa italiana com os produtores de leite brasileiros; a investigação das denúncias de irregularidades nas filiais nacionais; e a realização de um levantamento da estrutura e do patrimônio da Parmalat no Brasil.
O deputado pretendia pedir a intervenção na empresa, mas foi informado de que a medida é inviável do ponto de vista jurídico.